Sexta-feira, 31 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de junho de 2015
Emílio, 70 anos, neto de outro Emílio, filho de Norberto e pai de Marcelo, voltou a comandar o grupo que leva o sobrenome de sua família de origem germânica, a Odebrecht. Com o filho preso – na sexta-feira (19), pela 14ª fase da Operação Lava-Jato, da PF (Polícia Federal) –, Emílio Neto precisou atravessar as portas do Conselho de Administração para reassumir as funções que passara adiante em 2002, ao transferir a presidência do conglomerado. “Não se deixem abater, pois estaremos todos juntos neste momento de dificuldade. Estarei mais presente enquanto durar esta fase”, disse aos empregados, em um comunicado interno que mistura motivação e justificativas.
Neto pediu que os líderes da Odebrecht continuem a desempenhar suas funções, alinhados com o “estilo descentralizado” do grupo.
Por uma prática de governança que orienta a não acumular as presidências da empresa e de seu Conselho de Administração, Neto designou executivos para tocar a operação a seu lado. Na holding Odebrecht, por exemplo, ficará Newton de Souza, que também assumirá os cargos de Conselho que Marcelo desempenhava nas empresas do grupo, como na petroquímica Braskem.
Quando deixou a presidência do grupo, Neto passou o bastão ao executivo Pedro Novis. Apenas em 2008 é que seu filho Marcelo – muito mais próximo do avô Norberto do que do pai – assumiu o posto.
No comunicado, Neto reforçou que considerou “desnecessária essa medida de força”. E, ao fim do comunicado, fez um apelo: que os funcionários apoiem as famílias dos executivos detidos.
Em artigo publicado na Folha de S. Paulo, em 3 de maio, intitulado “Uma agenda para o futuro”, Neto afirmou que “o enfrentamento da corrupção é necessário”. Mas ressaltou que o País não pode ficar paralisado com esse debate. “É fundamental que a energia da nação seja canalizada para o debate do que precisamos fazer para mudar o País”, escreveu.
Gigantes da infraestrutura
Fundados originalmente como construtoras, na década de 1940, os grupos Odebrecht e Andrade Gutierrez são atualmente verdadeiros conglomerados de infraestrutura, com negócios que vão muito além dos canteiros de obras, atuando em áreas como o petróleo, geração de energia elétrica, telecomunicações e agronegócios. Juntas com a Camargo Corrêa e a Queiroz Galvão, as chamadas “quatro irmãs” têm em seus portfólios alguns dos principais projetos de infraestrutura concedidos pelo governo nos últimos anos.
Odebrecht e Andrade Gutierrez lideram ranking das maiores construtoras do País, elaborado pela revista O Empreiteiro, que é refência no setor. Antevendo o fim do “milagre econômico”, os dois grupos também partiram, no final dos anos 1970, para a internacionalização e hoje têm forte atuação no exterior.
A Odebrecht, por exemplo, toca projetos em pelo menos 21 países. A Andrade Gutierrez tem escritórios em igual número de nações e já executou obras em outras dez. A estatura multinacional e a forte presença doméstica colocou os dois grupos também entre os maiores conglomerados empresariais brasileiros.
Em 2014, a Odebrecht teve faturamento bruto de 107,7 bilhões de reais, valor que só fica atrás do grupo JBS, o maior do País, e fechou o ano com lucro de 497 milhões de reais.
Já a Andrade Gutierrez, que em 2013 lucrou 432,8 milhões de reais, amargou prejuízo de 417,6 milhões de reais em razão de perdas em participações que tem em outras empresas, como a operadora de telefonia Oi.
Além de forte atuação em concessões de rodovias, os dois grupos estão presentes nos maiores projetos de hidrelétricas em construção no País – a usina de Santo Antônio, no Rio Madeira, em Roraima, e de Belo Monte, no Rio Xingu, no Pará. Na área de transportes, a Odebrecht venceu o leilão do Aeroporto Internacional do Rio, que assumiu em parceria com a Changi, de Cingapura.
As duas empreiteiras, porém, acabaram arrastadas para o centro das investigações da Operação Lava-Jato pelas participações em grandes obras da petrobras, como a do Comprj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. (AG)