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Por Redação O Sul | 24 de maio de 2017
Os donos das JBS pagaram propina para ter vantagens para suas empresas e viabilizar negócios que formaram o maior grupo privado do país e a maior companhia de carne do mundo, de acordo com depoimentos na delação premiada de executivos e empresários da JBS e empresas do mesmo grupo. Os relatos mostram que o grupo corrompeu políticos para ter incentivos fiscais e conseguir dinheiro no BNDES e nos fundos de pensão.
O grupo também teria tentado interferir nas investigações da Operação Greenfield, que investiga as operações de fundos de pensão, em decisões do Conselho Administrativo de Defesa Econômica e até indicar executivos para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários). Executivos relatam que os pedidos foram feitos por Joesley ao presidente da República Michel Temer e ao deputado Rodrigo Rocha Loures em reuniões realizadas em março deste ano.
Veja 8 situações em que a JBS ganhou ou tentou obter vantagens para seus negócios com práticas ilícitas:
1 – Desoneração da folha de pagamento
Segundo Joesley Batista, a empresa pagou R$ 20 milhões de propina em 2015 ao então presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha para conseguir aprovar o projeto de desoneração tributária da folha de pagamentos para os produtores de aves.
O empresário disse que foi procurado por Cunha para tratar da questão, que estava na Câmara.
A JBS se tornou uma das grandes produtoras de frango no Brasil, atrás apenas da BRF, com a compra da Seara, em 2013.
2 – Crédito e aportes do BNDES
O grupo JBS exercia influência no BNDES por meio do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, de acordo com depoimento de Joesley Batista. O empresário conta que pagava como propina uma taxa de 4% do valor de cada contrato aprovado no BNDES, assim como dos aportes financeiros feitos por meio da BNDESpar, o braço do banco que investe em participações de empresas. Hoje o BNDES é dono de 21% da empresa.
Segundo o empresário, os pagamentos foram feitos em duas fases. Entre 2005 e 2008, o empresário Victor Sandri, que apresentou Joesley a Mantega, recebia o pagamento. A partir de 2009, Joesley passou a tratar diretamente com Mantega.
3 – Investimentos dos fundos de pensão
Os investimentos dos fundos de pensão nos negócios do grupo J&F, dono da JBS, envolveram o pagamento de propina para executivos dos fundos e para o Partido dos Trabalhadores, segundo depoimento de Joesley Batista.
4 – Investimento do FI-FGTS
Em seu depoimento, Joesley disse que pagou propina para conseguir liberar um investimento de R$ 940 milhões do FI-FGTS para construção da fábrica da Eldorado. O FI-FGTS é um fundo administrado pela Caixa Econômica Federal que investe recursos do FGTS em projetos de infraestrutura.
5 – Créditos tributários estaduais
A JBS negociou o pagamento de propina a políticos do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para conseguir descontos no pagamento de ICMS, relatam os depoimentos dos delatores Wesley Batista, dono e presidente da JBS, e Valdir Aparecido Boni, diretor de tributos da empresa.
Wesley diz que pagou propina ao governador de Mato Grosso do Sul, Reinaldo Azambuja (PSDB), e aos ex-governadores Zeca do PT e André Puccinelli (PMDB).
6 – Tentativa de influenciar o Cade
O dono da JBS disse que pediu a Temer e Rocha Loures, apontado como interlocutor de Temer, que intercedessem a favor do grupo em um pleito no Cade. A J&F questiona o monopólio da Petrobrás na importação de gás da Bolívia em um processo.
A empresa é dona de uma usina termelétrica em Cuiabá, movida a gás, que ficava sem matéria-prima para funcionar porque a Petrobrás compra todo o gás boliviano e não tinha garantia de fornecimento do insumo, de acordo com Joesley.