Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 2 de julho de 2017
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que não é preciso uma prova “satânica”, “quase impossível”, para ligar o presidente Michel Temer à mala com dinheiro recebida pelo ex-deputado e ex-assessor presidencial Rodrigo Rocha Loures.
Janot defendeu que os indícios contra o presidente são mais do que suficientes para apresentar uma denúncia, relembrando um questionamento antigo dentro da Procuradoria. “Não é possível que para eu pegar um picareta eu tenha que tirar a fotografia do sujeito tirando a carteira do bolso de outro. Ninguém vai passar recibo. Esse tipo de prova é satânica, é quase impossível. Tem que se olhar a narrativa.”
A expressão usada pelo procurador-geral faz um trocadilho com o termo “prova diabólica”. No direito, “prova diabólica” é a modalidade de prova impossível ou excessivamente difícil de ser produzida.
O procurador defendeu que há que se “olhar a narrativa” da denúncia. “Quando você apresenta esse tipo, não se apresenta um caderno de provas, mas indícios fortes e suficientes que autorizam o juízo inicial de que é preciso instaurar o processo penal e ir para a instrução penal. Que é o momento correto e adequado de se produzirem as provas.” Por outro lado, ressalvou: “Será que eu tenho que, ainda que em relação ao mais alto dignatário da República, oferecer um caderno de provas que dispensa a instrução penal? Isso é impossível”, constatou.
Missão
A declaração foi dada durante a palestra “Desafios no combate à corrupção: a Operação Lava-Jato”, no 12° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). A Operação Lava-Jato foi tema central do evento em São Paulo.
A palestra de Janot foi mediada pela jornalista Renata Lo Prete, da GloboNews, que apresentou o procurador-geral como o “entrevistado mais procurado da República”. Janot rebateu, de imediato, com bom humor: “Mas sem tornozeleira”.
Janot também afirmou que denunciar o chefe do Executivo do país não é algo que lhe dá prazer. “Queria passar ao largo disso, mas tenho que cumprir minha missão.”
Indagado por um integrante da plateia sobre o porquê de ele classificar a prova contra Temer como “satânica” – “Pelo sujeito a que ela se refere ou pela dificuldade em obtê-la?”-, Janot riu e respondeu: “Pela dificuldade em obtê-la.”
Sobre Rocha Loures, solto no sábado após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), Janot disse que “a mala já diz tudo”. O ex-deputado foi flagrado pela Polícia Federal deixando uma pizzaria com uma mala de dinheiro.