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Por Redação O Sul | 10 de agosto de 2017
Eles vieram de todo os EUA, desembarcando de táxis, empurrando carrinhos de bebê e puxando malas, para chegar ao fim de uma estrada rural nas matas do norte.
Onde o asfalto termina, eles carregam as crianças menores e conduzem as mais velhas com mochilas de Mickey Mouse ao redor de uma placa de “Estrada fechada”, contornam arbustos, cruzam uma vala e passam por outra placa que diz em francês e inglês: “Proibido para pedestres”. Então eles são presos.
Sete dias por semana, 24 horas por dia, migrantes que vieram do mundo todo – da Síria, do Congo, Haiti e outros lugares– para os EUA chegam aqui no final da Roxham Road para poderem entrar no Canadá, esperando que suas políticas lhes deem a segurança que o atual clima político nos EUA não dá.
A passagem ficou tão lotada neste verão que a polícia canadense montou um centro de recepção em seu lado da fronteira, na comunidade de Saint-Bernard-de-Lacolle, no Quebec, a cerca de 50 km ao sul de Montreal, ou quase 480 km ao norte da cidade de Nova York.
Ela inclui tendas que brotaram nas últimas semanas, onde os migrantes são processados antes de ser entregues à Agência de Serviços de Fronteira do Canadá, que cuida de suas solicitações de refugiados.
A Polícia Montada Real do Canadá está instalando eletricidade e banheiros portáteis. Há uma bandeira canadense ao lado da primeira tenda, onde os policiais montados revistam os imigrantes que acabam de “prender” e verificam seus documentos de viagem.
Os migrantes também recebem comida e são registrados, e depois levados de ônibus a seu próximo destino. Caminhões carregam a bagagem em separado.
Ninguém sabe como este lugar, que não é um cruzamento oficial de fronteira, se tornou o ponto preferido de entrada no Canadá. Mas quando os migrantes começaram a ir para lá a notícia se espalhou nas redes sociais.
Sob o Acordo do País Seguro de 2002 entre os EUA e o Canadá, os migrantes que pedem asilo devem solicitá-lo no primeiro país ao qual chegarem. Se eles tivessem ido a um porto de entrada legal no Canadá, seriam devolvidos aos EUA e mandados solicitar lá.
Em um truque na aplicação da lei, porém, se os migrantes chegarem ao país em um lugar que não é um porto de entrada, como a Roxham Road, podem pedir o status de refugiados.
Muitos pegam ônibus para Plattsburgh, no Estado de Nova York, a cerca de 32 km ao sul. Alguns pegam aviões e outros o trem Amtrak. Às vezes táxis transportam as pessoas até a fronteira. Outras são deixadas no meio do caminho e têm de caminhar, puxando suas malas.
Os migrantes disseram que foram movidos pela ideia de que a era do presidente republicano Donald Trump, com seus pedidos de proibição de pessoas de alguns países de maioria muçulmana, significa que os EUA não são mais o destino dos despossuídos do mundo.
Em suas mentes, esse lugar foi ocupado pelo Canadá do primeiro-ministro Justin Trudeau, membro do Partido Liberal de seu país.
A maioria das pessoas que faz a travessia hoje é originária do Haiti. O governo Trump disse neste ano que pretendia encerrar em janeiro um programa humanitário especial aprovado depois do terremoto de 2010 que deu a cerca de 58 mil haitianos autorização para ficar temporariamente nos EUA.
Brad Brant, um supervisor de operações especiais da Patrulha de Fronteiras, “nossa missão não é impedir que as pessoas saiam”.
Um pequeno número de pessoas continua cruzando para o Canadá em outros lugares, mas a vasta maioria pega a Roxham Road. As autoridades americanas disseram que começaram a notar no último outono, mais ou menos na época da eleição presidencial, que mais pessoas estavam atravessando ali.
Francine Dupuis, diretora de um programa financiado pelo governo do Quebec que ajuda os que solicitam asilo, disse que sua organização calcula que ao todo 1.174 pessoas entraram na província no mês passado, em comparação com 180 em julho de 2016.
Autoridades americanas e canadenses estimaram que só no último domingo (6) cerca de 400 pessoas cruzaram a fronteira na estrada rural.
O Canadá disse na semana passada que pretendia abrigar alguns migrantes no Estádio Olímpico de Montreal. Ele pode conter milhares de pessoas, mas os planos atuais pedem apenas 450.
Na maioria dos casos, quando os migrantes estão no Canadá eles são livres e podem viver à vontade enquanto seus pedidos de asilo são processados, o que pode demorar anos. Entretanto, eles têm direito a solicitar ajuda pública.
O próprio Trudeau disse recentemente que seu país tem postos de controle na fronteira que precisam ser respeitados.
“Temos um país aberto e compassivo, mas temos um sistema forte que seguimos”, afirmou ele. “Proteger a confiança dos canadenses na integridade de nosso sistema nos permite continuar sendo abertos, e isso é exatamente o que precisamos continuar fazendo.” (Folhapress)