Domingo, 19 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 2 de setembro de 2017
Os executivos-delatores do grupo JBS/Friboi entregaram novos anexos à PGR (Procuradoria-Geral da República) que revelam detalhes inéditos sobre um pagamento feito a Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras (2015-2016) e do Banco do Brasil (2009-2015). Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, que controla o conglomerado do ramo frigorífico, contou ter sido procurado em sua casa pessoalmente por Bendine, então no comando do banco estatal, com um pedido de dinheiro. O caso teria ocorrido em 2013.
Mesmo demonstrando constrangimento, Bendine teria solicitado R$ 5 milhões emprestados, para a compra de um imóvel. Joesley disse que não se recorda se a propriedade já estava comprada ou se Bendine ainda pretendia adquirir o imóvel. Ainda conforme o empresário, na ocasião o dirigente salientou que não poderia beneficiá-lo na instituição financeira, porque o sistema de governança da instituição impedia atos ilícitos, mas garantiu que “se esforçaria” para atender a pedidos da JBS/Friboi, não necessariamente no Banco do Brasil.
“Bendine era uma pessoa influente no governo e, por isso, concordou em emprestar o valor pedido”, diz um trecho do anexo entregue à PGR e que vazou à imprensa. As novas informações poderão ser utilizadas em inquéritos já em andamento ou, então, fundamentar a abertura de novas investigações.
Encontro
O delator acrescentou que o então presidente do Banco do Brasil foi pessoalmente à sede da J&F, acompanhado de um homem que aparentava mais de 50 anos, e pediu para receber parte dos R$ 5 milhões. Para comprovar o acordo com o ex-presidente do Banco do Brasil, o empresário apresentou à PGR planilhas com valores e datas dos pagamentos.
Joesley também informou que, apesar de Bendine dizer que não haveria uma contrapartida ilegal e imediata, o dinheiro nunca foi devolvido. Nos primeiros anexos da delação, revelados em maio, os delatores já haviam explicado que era costume da empresa fazer pagamentos mesmo sem garantia de privilégios. Era o chamado “reservatório de boa-vontade”.
Bendine foi preso pela Polícia Federal em julho, suspeito de receber R$ 3 milhões da empreiteira Odebrecht. O Ministério Público Federal afirma que, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, Bendine e um de seus operadores financeiros pediram propina a Marcelo Odebrecht, a fim de que a empresa não fosse prejudicada em contratos com a Petrobras, inclusive em relação às consequências da Operação Lava-Jato.
Eldorado Celulose
Nesse sábado, a holding J&F anunciou a conclusão das negociações para a venda da Eldorado Celulose e Papel ao grupo Paper Excellence, que também é dono da APP (Asia Pulp and Paper) e, com o negócio, entra no mercado brasileiro. O valor total do negócio é de R$ 15 bilhões e será concretizado em duas etapas. Na primeira, a Paper Excellence comprará 35% do negócio. O restante será concluído em 12 meses. Os fundos de pensão Petros (da Petrobras) e Funcef (Caixa), que são cotistas, ainda estão definindo se também venderão as suas participações.
Sediado na Holanda, o grupo Paper Excellence iniciou suas atividades em 2007, com sua primeira fábrica de celulose, a Meadow Lake, no Canadá. Desde então, vem crescendo por meio da aquisição de fábricas locais e na Europa. A Eldorado, que produz cerca de 1,7 milhão de toneladas de celulose de eucalipto por ano, é uma aquisição importante para o Paper Excellence, ao incluir em seu portfólio ativos de produção de celulose de eucalipto.
Desde o dia 17 de maio, quando as delações dos irmãos Batista vieram à tona, a família começou a se desfazer de diversos ativos. O grupo J&F assinou um acordo de leniência com o MPF (Ministério Público Federal), no valor de R$ 10,3 bilhões. Dentre as empresas vendidas estão a Vigor (vendida ao grupo mexicano Lala por R$ 5,7 bilhões) e a Alpargatas (negociada com o Itaúsa e Cambuhy, sócio do Itaú Unibanco por R$ 3,7 bilhões), além das operações de carne da América do Sul para o frigorífico nacional Minerva, por US$ 300 milhões.
A Eldorado, que tem um complexo industrial em Três Lagoas (MS), foi cobiçada por importantes companhias do setor. Em junho, a família Batista chegou a fechar um acordo de exclusividade com o grupo chileno Arauco, que teria se comprometido a pagar cerca de R$ 14 bilhões pelo negócio. Além deles, os grupos nacionais Fibria e Suzano também demonstraram interesse.