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Brasil A Polícia Federal rastreou um esquema de corrupção que liga o filho do senador Jader Barbalho ao pagamento de propinas na construção da usina de Belo Monte

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Helder Barbalho é hoje ministro do governo de Michel Temer. (Foto: Agência Brasil)

Faltando cerca de três meses para as eleições de 2014, três altos executivos das empreiteiras Odebrecht, Andrade Gutierrez e Camargo Corrêa, responsáveis pela construção da hidrelétrica de Belo Monte (MG), entram em um hotel na Zona Sul do Rio de Janeiro. O motivo: uma reunião extraordinária. Em uma sala reservada, Flávio Barra, diretor da Andrade, conversa com Luiz Carlos Martins, da Camargo, e Augusto Roque, da Odebrecht.

Um representante do PMDB, Luiz Otávio Campos (ex-senador pelo Pará e hoje secretário nacional dos Portos do governo de Michel Temer) entra na sala e é apresentado por Barra aos colegas como arrecadador de recursos designado para o caso de Belo Monte. Conforme o padrão apurado pela Operação Lava-Jato, nas operações relativas a Belo Monte o PMDB do Senado costuma receber em propinas 0,5% dos valores dos contratos – que, nesse caso, chegavam a R$ 25 bilhões.

A cena aqui descrita foi montada com base em depoimentos à PF (Polícia Federal). Em sua oitiva, Luiz Otávio disse que foi enviado com a tarefa de indicar candidatos a ser beneficiados com a parcela do PMDB. Ele diz ter indicado Helder Barbalho (filho do senador Jader Barbalho), então candidato ao governo do Pará e hoje ministro da Integração Nacional, como um dos destinatários do dinheiro do “compromisso político” referente a Belo Monte.

Assim como Helder, os outros dois escolhidos eram filhos de senadores poderosos do PMDB: Renan Filho, candidato ao governo de Alagoas e filho do então presidente do Senado, Renan Calheiros, e “provavelmente” Lobão Filho, candidato ao governo do Maranhão e filho do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

Os investigadores da PF produziram um relatório no qual afirmam que o dinheiro de Belo Monte chegou indiretamente à campanha de Helder ao governo do Pará em 2014. “O Diretório Nacional do PMDB recebeu R$ 127 milhões a título de doação eleitoral, dos participantes do Consórcio Construtor de Belo Monte, nos pleitos de 2010/2012/2014”, diz a PF. Especificamente em 2014, o Diretório Nacional do PMDB foi abastecido com R$ 50 milhões das empreiteiras de Belo Monte e, segundo a PF, repassou R$ 1,5 milhão a Helder. Outros R$ 8,2 milhões vieram do diretório paraense do PMDB.

Confrontado pela PF sobre o encontro no Rio de Janeiro, Luiz Otávio disse que esteve na reunião com os empreiteiros de Belo Monte a convite de Flávio Barra e disse que “possivelmente” compareceu com os dados dos três peemedebistas destinatários dos recursos. “O papel do declarante na citada reunião limitava-se a apresentar a indicação das pessoas com as quais deveriam ser operacionalizadas as doações de campanha, caso fossem efetivadas”, diz o depoimento prestado por Luiz Otávio em março. O peemedebista afirmou que, posteriormente, Flávio Barra lhe confirmou que os pagamentos da Andrade foram feitos.

Luiz Otávio não usa o termo “propina” quando fala da reunião: ele prefere a palavra “doações”. Mas para os investigadores e para os empreiteiros não há dúvidas de que se tratava de um pedágio ilegal cobrado pelo PMDB para não atrapalhar a liberação de recursos públicos. “Esse pedido de doação estava nitidamente relacionado ao ‘compromisso político’ que havia no contexto das obras de Belo Monte”, afirma Luiz Carlos Martins, delator da Camargo Corrêa.

Outro delator, o executivo da Odebrecht Augusto Roque Fernandes, esteve na PF em maio e deu novos detalhes. Afirmou que Luiz Otávio reclamava de atrasos nos pagamentos ao PMDB, fazendo referência explícita ao faturamento que a Odebrecht estava conseguindo graças a Belo Monte. E disse que teve com ele uma nova reunião para acertar a forma de pagamento.

Ao chegar ao encontro em um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro, Fernandes diz que foi avisado por Luiz Otávio: “Fica tranquilo, porque aqui não tem câmeras”. Na ocasião, acertaram que os pagamentos seriam feitos via caixa dois, mediante remessas de R$ 500 mil entregues alternadamente em endereços em São Paulo e no Rio de Janeiro indicados pelo próprio peemedebista. Luiz Otávio, segundo Augusto, recebeu a senha para retirar os pagamentos.

Defesas

Em nota, o ministro Helder Barbalho afirma que nunca esteve com os empreiteiros de Belo Monte e que a arrecadação de sua campanha em 2014 ficou a cargo dos diretórios estadual e nacional do PMDB. “Questionamentos a respeito dos recursos arrecadados devem ser feitos aos diretórios do partido”, diz.

“Minha campanha só recebeu recursos oficiais e as doações eleitorais foram registradas junto ao TRE-PA, que aprovou todas as contas de campanha”, disse. Luiz Otávio afirmou à PF que a acusação de arrecadação de propina da obra é “mentirosa”. O advogado do senador Edison Lobão, Antônio Carlos “Kakay” de Almeida Castro, diz que as afirmações dos delatores são “inverídicas”.

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