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Brasil No dia de sua exoneração, o ex-procurador da República Marcelo Miller viajou aos EUA com passagem mais cara que seu salário anterior

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Ex-procurador foi fazer apresentação relativa à JBS com passagem de classe executiva. (Foto: Reprodução)

No dia em que sua exoneração do MPF (Ministério Público Federal) foi publicada, 5 de abril, o ex-procurador Marcello Miller viajou para os Estados Unidos para fazer uma apresentação relativa à JBS de classe executiva com passagem de valor superior ao seu salário anterior. O bilhete foi pago pelo escritório de advocacia que o contratou. E-mails entregues pelo escritório Trench, Rossi e Watanabe à PGR (Procuradoria-Geral da República) mostram Miller tratando da apresentação que seria feita a órgãos de controle norte-americanos, além das passagens.

Um e-mail trocado por Esther Flesch, ex-sócia do escritório e responsável por contratar Miller, com uma secretária revela o pagamento da passagem para a viagem de ida e volta do ex-procurador aos Estados Unidos.

Esther e Miller viajaram juntos. Os dois deixaram o Brasil no dia 5 de abril e retornaram de Washington no dia 7, de classe executiva, pela United Airlines. A secretária fez uma cotação de preços no dia 30 de março e repassou à advogada, que optou pelo voo direto, com o custo de 11,7 mil dólares, o equivalente a 36,2 mil reais na data da viagem.

O salário de Miller como procurador era de 34,9 mil reais bruto, já incluídos os benefícios de auxílio-moradia, alimentação e pré-escolar. Descontados imposto de renda e contribuição previdenciária, ele recebia 25,5 mil reais líquido.

Flesch autorizou a compra da passagem, mas pediu que eles não fossem colocados em assentos juntos por não gostar de “viajar muito colado nos colegas de trabalho”.

“Sim, pode comprar. Não gosto de viajar muito colado nos colegas de trabalho. Inibe, a pessoa fica sem jeito e acha que tem que conversar o voo todo. Pode ser próximo. Corredor e do outro lado do corredor”, escreveu ela, no dia 30 de março, para a secretária.

A passagem para os Estados Unidos não foi a única bancada pelo escritório antes de Miller fazer parte oficialmente da equipe. O primeiro registro nos documentos entregues pela banca é de uma viagem realizada no dia 13 de fevereiro, quando ele nem sequer havia pedido exoneração da Procuradoria.

Há registros ainda de outras passagens de ida e volta entre Rio e São Paulo pagas no mês de março, quando Miller ainda era procurador, apesar de já ter pedido para sair.

Revisão da delação da JBS

A atuação de Miller para a JBS durante o período em que ainda era procurador é um dos motivos que levou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a abrir o procedimento para rever a delação de executivos da empresa.

Os e-mails entregues pelo escritório dentro deste procedimento revelam que ele já atuava como se fizesse parte do escritório antes de deixar a função no Ministério Público Federal.

Há nos documentos uma série de e-mails trocados entre ele, Esther e Camila Steinhoff, outra advogada da banca. Vários deles referem-se justamente à apresentação que seria feita nos Estados Unidos.

No dia 1º de abril, Miller manda para as advogadas um esboço da apresentação. Horas depois, Flesch responde com alterações. No dia seguinte, Miller responde com “ajustes e correções bobinhos”, nas palavras dele. Eles seguem trocando informações sobre a apresentação até a véspera da viagem.

Também na troca de e-mails há registros de trocas de informações entre Esther e Miller sobre o plano de trabalho para a leniência da JBS com o Ministério Público Federal e a cópia do contrato. Miller, inclusive, alerta no dia 16 de março a advogada que a JBS já tinha iniciado conversas com a JBS sobre colaboração, informação que o escritório não detinha. (O Globo)

 

 

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