Quarta-feira, 23 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 28 de setembro de 2017
Trisnha Shakya, uma menina de três anos, foi eleita nesta quinta-feira (28) a nova “Kumari”, a tradicional menina deusa viva que é venerada por hindus e budistas no país do Himalaia há 500 anos. Ela sucede sua antecessora que se aposentou aos 12 anos ao supostamente alcançar a idade de sua primeira menstruação.
A menina foi levada entre fotógrafos e nos braços do seu pai ao Palácio Kumari Ghar de Katmandu, onde ficará reclusa pelos próximos nove anos com esporádicas saídas ao exterior em festividades religiosas.
“Temos Trishna Shakya como a nova deusa. Ela substituiu agora Martina Shakya, que completou 12 anos”, disse à Agência Efe o sacerdote Uddhav Karmacharya, um dos membros do comitê que selecionou a nova menina deusa.
“Escolhemos Trishna entre muitas outras meninas porque seu mapa astral era mais adequado que o das outras”, explicou.
As meninas Kumari (palavra que significa menina solteira) têm que pertencer à comunidade indígena de Newar e à família Shakya e, no momento da escolha, ter entre dois e quatro anos.
Além disso, devem cumprir uma série de requisitos, como ter um determinado mapa astral ou uma voz clara.
Segundo a tradição, as meninas escolhidas como “deusas vivas” são a reencarnação da deusa hindu Kali e o mandato se estende até que cheguem aos 12 anos, momento em que supostamente menstruam pela primeira vez e a partir do qual abandonam o templo.
Frequentemente vistas como uma atração turística, as meninas deusas recebem educação no complexo em que ficam reclusas, onde inclusive fazem os exames oficiais, e podem receber a visita diária de seus pais.
Mas ser uma deusa kumari não é uma tarefa fácil. Elas não podem sair para ir à escola, só podem se comunicar com um grupo seleto e não têm permissão para caminhar fora do templo onde residem.
Além disso, espera-se que elas fiquem em silêncio por longas horas enquanto abençoam milhares de fiéis durante os festivais.
É o caso de Martina, eleita em 2008, a primeira Kumari do período republicano – apesar de tradição das meninas deusas estar muito ligada à já extinta monarquia no país.
“Ela é livre agora e pode estudar onde quiser. Também pode se casar se assim desejar”, explicou à Agência Efe o sacerdote Karmacharya sobre a antiga Kumari, que se despediu com honras de estado.
Orgulho
Para as famílias das meninas deusas, a escolha costuma ser um motivo de orgulho, apesar do isolamento.
“É um momento de orgulho para nós. Estou extremamente feliz que a minha filha tenha sido eleita como a deusa viva”, disse à imprensa o pai da nova Kumari, Bijay Ratna Shakya.
De fato, centenas de pessoas na capital acompanharam a nova Kumari em uma procissão com música tradicional desde sua casa até o templo de Taleju, onde aconteceu a cerimônia de boas-vindas e se encontrou com a sua antecessora.
Depois, a antiga Kumari se despediu com uma homenagem do Exército e foi levada escoltada por centenas de pessoas ao lar que abandonou há quase uma década.