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Por Redação O Sul | 28 de setembro de 2017
A PF (Polícia Federal) deflagrou nessa quinta-feira uma operação denominada Anel de Giges, que tem como alvos filhos e ex-enteadas do líder do governo no Senado e presidente nacional do PMDB, Romero Jucá (RR). A ação investiga desvios de R$ 32 milhões com a compra superfaturada de terreno e com obras do programa Minha Casa, Minha Vida.
Durante a ofensiva, o genro da prefeita de Boa Vista foi preso por posse ilegal de arma de fogo. Dois filhos de Jucá e duas ex-enteadas dele foram indiciados por peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Investigações dizem que a Fazenda Recreio, em Boa Vista, que era de propriedade de dois filhos e duas ex-enteadas de Jucá e valia R$ 3, 5 milhões, mas foi vendida por um valor superfaturado para uma obra do projeto de habitação do governo federal.
A PF informa que há documentos contraditórios com o valor de venda: uns citam R$ 4,5 millhões e outros falam em R$ 7 milhões.
No local, foi construído o residencial Vila Jardim, com mais de 2 mil apartamentos populares. A obra, que foi financiada pela Caixa Econômica Federal, custou R$ 185 milhões.
Alan Robson, delegado da PF responsável pela operação, disse que a construtora que executou o projeto, a CMT Engenharia, agiu com apoio dos filhos e das ex-enteadas de Jucá. Assim, segundo a investigação, o dinheiro desviado na construção – cerca de R$ 31 milhões – chegou aos parentes do senador.
“A análise dos recursos bancários mostram a movimentação de pessoas físicas e jurídicas que levam ao desvio desses recursos em benefício desses investigados e em específico desses quatro proprietários da fazenda”, declarou o delegado.
Ainda de acordo com o delegado, os recursos desviados da construção eram aplicados em empresas das quais os parentes do senador são sócios.
“Um exemplo do superfaturamento da construção é o concreto usado na obra. No papel, ele foi declarado como adquirido em Roraima [a valores mais altos], mas a perícia da PF descobriu que na verdade havia uma usina de concretagem na obra do residencial Vila Jardim, gerando uma sobra de recurso que era desviado pelos investigados.”
Ainda de acordo com a PF, há indícios de irregularidades na fiscalização e aprovação do empreendimento Vila Jardim por parte de funcionários da Caixa Econômica Federal, que financiou a obra. O superintendente da Caixa em Roraima foi levado para depor na sede da Polícia Federal.
Mandados
Ao todo, a operação teve 17 mandados judiciais emitidos: 9 de busca e apreensão e 8 de condução coercitiva (quando o suspeito é levado para depor). A PF foi a endereços em Boa Vista, Belo Horizonte e Brasília. A investigação sobre o caso começou em 2015 e, segundo a 4ª Vara da Justiça Federal em Roraima, o processo tramita em sigilo.
A operação foi batizada de Anel de Giges inspirada em um dos livros da obra “A República”, de Platão, em que é discutido o tema da Justiça. O Anel de Giges, de acordo com a PF, permite ao seu portador que fique invisível e cometa ilícitos sem consequências.
Em Boa Vista, agentes da PF estiveram na casa do filho de Romero Jucá, o ex-deputado Rodrigo Jucá. No endereço, em área nobre da cidade, agentes recolheram documentos. O advogado de Rodrigo Jucá, Emerson Delgado, esteve no local, mas não quis dar declarações à imprensa.
A PF também esteve em uma fazenda onde vive Luciana Surita, ex-enteada de Jucá. Lá também mora a mãe dela, a atual prefeita de Boa Vista e ex-mulher do senador, Teresa Surita (PMDB), que não é alvo da operação. Na propriedade, o marido de Luciana foi preso em flagrante por posse ilícita de um fuzil de caça 7,62 e uma pistola 45 sem registros e munições.
Em Belo Horizonte, a PF cumpriu um mandado de condução coercitiva e um de busca na empresa de Elmo Teodoro Ribeiro. O empresário é sócio da construtora CMT Engenharia, responsável pelo Vila Jardim.
Ribeiro prestou depoimento na sede da Superintendência da PF na capital mineira. No cumprimento do mandado de busca, nada foi apreendido. A sede da construtora em Brasília disse que a empresa não tem nada a declarar. A reportagem não conseguiu contato com construtora em Roraima.
A Prefeitura de Boa Vista comunicou que ação da PF não tem nenhuma relação com a administração municipal. O G1 tenta contato com a assessoria da Caixa no Estado.