Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 29 de setembro de 2017
O depoimento seguido pela carta de desfiliação de Antonio Palocci abalaram de forma inédita o ex-presidente Lula, que até então relevava as informações que outros delatores davam contra ele em processos.
De acordo com pessoas que convivem de forma intensa com o ex-presidente, ele sempre dizia entender delatores como Léo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht: presos por muito tempo, eles não teriam alternativa a não ser falar de Lula nos acordos com a Justiça.
O caso do ex-ministro seria diferente devido à “virulência dos ataques” e o sentimento de “extremo amargor”. Amigos de Lula dizem que Palocci não só enfiou a faca mas forçou até o fundo” mas ainda deu voltas com a faca nas vísceras do ex-presidente.
Alternativas
Fernando Haddad comparece nesta sexta (29) na casa de Caetano Veloso, no Rio, para uma sabatina que o cantor tem organizado com políticos e artistas brasileiros.
Haddad e Jaques Wagner, o ex-governador da Bahia, seriam alternativas para o PT caso Lula não possa ser candidato. O ex-prefeito teria 80% das bases e 20% da cúpula a favor de sua eventual candidatura. A proporção é inversa no caso de Jaques.
Quem decide, no entanto, é de Lula, que até o momento não deixa o assunto seguir e evita conversar sobre a possibilidade de não ser candidato.
A delação
O ex-ministro Antonio Palocci disse em depoimento ao juiz Sérgio Moro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou um “pacto de sangue”no qual a Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 300 milhões em propinas ao PT entre o final do governo Lula e os primeiros anos do governo Dilma, segundo seus advogados.
O ex-ministro disse que o acordo foi fechado numa conversa entre Emílio Odebrecht e Lula. O empreiteiro estava preocupado que a relação da empresa com a presidente Dilma Rousseff não fosse tão fluida como no governo Lula.
O empresário propôs a Lula um “pacto de sangue” para manter o protagonismo da Odebrecht não só nos contratos da Petrobras, mas em todo o governo. O acordo previa a reforma do sítio de Atibaia, a compra do terreno da nova sede do Instituto Lula e R$ 300 milhões de vantagens indevidas à disposição de Lula e do PT.
Lula chamou Palocci para que o ex-ministro decidisse como eles receberiam aquele dinheiro. O ex-ministro menciona o exemplo de R$ 4 milhões entregues no Instituto Lula. As informações da entrega estão descritas na Planilha Italiano B. O dinheiro saiu do setor de operações estruturadas da Odebrecht. A forma de entrega, segundo Palocci, foi combinada por Branislav Kontic, seu ex-assessor.
Desfiliação
O ex-ministro Antonio Palocci enviou na última terça-feira (26) uma carta à presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), pedindo sua desfiliação do partido. No documento, Palocci reafirma as declarações feitas ao juiz Sérgio Moro.
Na carta, Palocci diz ter visto com estranheza o fato de o PT ter aberto um procedimento interno após sua decisão de buscar um acordo de delação, mas não ter feito o mesmo para apurar as razões pelas quais estava detido pela Operação Lava-Jato.
No texto, Palocci diz que tentou trabalhar pelo partido e por Lula, sabendo que seria difícil não cometer “desvios éticos”.
“Sei dos erros e ilegalidades que cometi. E assumo minhas responsabilidades. Mas não posso deixar de destacar o choque de ter visto Lula sucumbir ao pior da política no melhor dos momentos de seu governo”, escreveu o ex-ministro.
Na carta, Palocci afirma ainda que um dia a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente da Petrobras vão admitir a “perplexidade que tomou conta de nós após a fatídica reunião no Palácio do Alvorada, onde Lula encomendou as sondas e as propinas no mesmo tom, sem cerimônias”.
Ex-ministro diz ter proposto a Lula e a Falcão que colaborassem com a Justiça e se dedicassem à reforma política.
“Tive oportunidade de expressar essa opinião informal a Lula e a Rui Falcão, então presidente do PT, que naquela oportunidade, transmitia uma proposta apresentada por João Vaccari para que o PT buscasse um processo de leniência na Lava-Jato”.
Palocci encerra a carta afirmando que aceitaria qualquer penalidade do partido. “Mas ressalto que não posso fazê-lo neste momento e neste formato proposto pelo partido, onde quem fala a verdade é punido e os erros e ilegalidades são varridos para debaixo do tapete”.
Ao reafirmar as acusações, Palocci escreveu que são “fatos absolutamente verdadeiros”.
“São situações que presenciei, acompanhei ou coordenei, normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula. Tenho certeza que, cedo ou tarde, o próprio Lula irá confirmar tudo isso, como chegou a fazer no “mensalão”, quando, numa importante entrevista concedida na França, esclareceu que as eleições do Brasil eram todas realizadas sob a égide do caixa dois, e que era assim com todos os partidos”.