Quarta-feira, 22 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de setembro de 2017
Há 25 anos, Rosane Collor deixava o Palácio do Planalto de braços dados com o então marido Fernando Collor de Mello, afastado de seu cargo de Presidente da República após sofrer um processo de impeachment por corrupção. Duas décadas e meia depois, separada de Collor há 12 anos, ela afirma: “A Justiça será feita e ele vai pagar por seus erros”.
Ainda no meio de um imbróglio litigioso pela partilha de bens e pensões alimentícias atrasadas, a ex-primeira dama do Brasil olha para trás e suspira com certo alívio: “Quando vejo o envolvimento dele em vários esquemas ainda hoje, penso que Deus me deu o maior livramento da minha vida”.
Atualmente, Rosane Malta vive em Maceió, em Alagoas, onde nasceu e conheceu Fernando Collor. A rotina é feita de encontros de caridade e de rascunhos para um segundo livro ( O primeiro, “Rosane Malta, tudo o que vi e vivi”, foi lançado em 2014). Mas também de articulações para um futuro político. “Recebo convites para atuar na política até hoje. Nunca disse que não entraria. Se fosse para escolher, me candidataria a deputada federal. Quero legislar pelas mulheres e trabalhar para que haja educação no País”, conta ela: “Antes, porém, preciso desvincular minha vida da do meu ex-marido. Espero que este processo, já ganho em várias instâncias, termine no máximo em um ano. Aí, sim, estarei livre para refazer minha história”.
O silêncio dos inocentes
Coadjuvante no processo de impeachment sofrido por Collor em 1992, Rosane afirma que jamais esteve envolvida nas falcatruas do então presidente. Ela garante que tinha total confiança na palavra do marido. “Quando meu cunhado (Pedro Collor) me disse que PC Farias (ex-tesoureiro de campanha de Collor à Presidência da República) fazia tráfico de influência dentro do governo, eu cheguei em casa e questionei o Fernando. Ele falou que tudo era uma invenção, uma conspiração do PT e dos empresários para tirá-lo do governo. Que mulher que ama seu marido não acreditaria? Que mulher não ficaria ao lado de seu marido?”, questiona ela.
Após 25 anos, Rosane não só ri da própria ingenuidade como diz que faria tudo ao contrário. “Primeiro, não teria me casado com ele. Meu pai me alertou muitas vezes sobre o temperamento de Fernando, sobre o envolvimento dele com muitas mulheres. Mas eu estava apaixonada, tinha 19 anos. Três meses depois estava casada e dois anos depois primeira-dama do Estado e logo depois do País…”, justifica: “Sabendo de tudo o que sei agora, depois de viver tudo o que vivi e sofri, jamais teria insistido nesta relação”.
Que país é esse?
Há dois anos, Rosane Malta se viu no lado oposto em que estava ao praticamente ser expulsa de Brasília em setembro de 1992. Ela foi para as ruas, de verde e amarelo, gritar pelo impeachment de Dilma Rousseff. “Foi um momento totalmente emblemático para mim. Era o oposto do que vivi, mas com o mesmo sentimento que as pessoas que foram às ruas naquele época tinham. Já são 25 anos e continuamos vendo e vivendo os mesmos problemas”, avalia ela, que, no entanto, vê uma saída. E não é pelo aeroporto: “O País está crescendo, está amadurecendo. Quando o Fernando foi eleito, o Brasil estava há 30 anos sem eleições diretas. Foi um marco. Legitimamente ele foi eleito. Só que vamos pegar para trás, a corrupção existe há muito tempo e agora estamos passando tudo a limpo. Isso é prova de que estamos num caminho”.
Rosane diz que jamais teve contas fantasmas em seu nome ou tenha sido laranja de algum esquema. Rosane foi acusada — e posteriormente inocentada — de fraude, corrupção passiva e peculato à frente da LBA (Legião Brasileira de Assistência). “Nunca fiz nada errado ou tirei dinheiro da entidade. Pelo contrário, deixei um projeto lindo que depois foi interrompido em outro governo”, afirma.