Terça-feira, 21 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de outubro de 2017
O apreço do eleitorado pela democracia como forma de governo diminuiu nos últimos anos, um provável reflexo do descrédito em que os políticos caíram com o cerco à corrupção e a profunda recessão econômica em que o país mergulhou há três anos. Segundo o Datafolha, 56% dos eleitores concordam com a noção de que a democracia é sempre melhor do que outras formas de governo.
Em dezembro de 2014, a mesma ideia tinha o apoio de 66% do eleitorado – o nível mais alto de apoio à democracia observado pelo Datafolha desde que a pergunta começou a ser feita pelo instituto, em 1989, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
No fim de 2014, a ex-presidente Dilma Rousseff acabara de ser reeleita e se preparava para iniciar seu segundo mandato. Embora as dificuldades econômicas fossem evidentes, a taxa de desemprego ainda estava em queda e os efeitos mais fortes da recessão ainda estavam por vir.
Segundo o Datafolha, 21% dos eleitores concordam com a ideia de que em certas circunstâncias uma ditadura é melhor do que um regime democrático. Em dezembro de 2014, pensavam dessa forma 15% dos eleitores. Outros 17% se disseram indiferentes à forma de governo do país. Há três anos, 12% achavam isso.
Na série histórica do Datafolha, o nível mais baixo de apreço pela democracia foi observado em fevereiro de 1992, quando o então presidente Fernando Collor de Mello estava prestes a completar dois anos de mandato.
Nos meses seguintes, período em que Collor e seu governo foram atingidos por uma série de acusações de corrupção que levaram ao seu impeachment antes do fim do ano, o apoio à democracia voltou a crescer.
Em março de 1993, quando o país era governador por Itamar Franco, 59% preferiam a democracia. A parcela do eleitorado que considera a ditadura preferível ao regime democrático em certas situações alcançou 29% em junho do ano 2000 e desde então diminuiu de forma quase contínua até o fim de 2014, mostra o Datafolha.
Mensalão
Nesse período, o prestígio da democracia também aumentou de forma praticamente contínua, com exceção de uma inflexão observada pelo Datafolha em julho de 2005, pouco depois do início do escândalo do mensalão, quando o apoio ao regime democrático diminuiu para 56%.
Deflagrado pelas acusações do então deputado Roberto Jefferson, o escândalo abalou o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antes de ele concluir seu primeiro mandato. Superada a crise política, Lula conseguiu se reeleger no ano seguinte, quando a economia passou a crescer em ritmo mais acelerado e o apoio à democracia se recuperou.
De centro
Uma fatia relevante do eleitorado brasileiro se distanciou da esquerda e hoje se identifica
mais com o centro do espectro político do que seus extremos, de acordo com o Datafolha.
Segundo o instituto, 29% dos eleitores se classificam atualmente como de centro, 9% se
dizem de centro-esquerda e 10% se consideram de centro-direita. A quantidade de
eleitores que se dizem de centro é a que mais cresceu nos últimos anos. Eram 17% em
maio de 2010.
Somados os eleitores que se consideram de esquerda com os que se dizem de centro-esquerda, o grupo autodeclarado esquerdista aumentou de 20% para 22% nos últimos sete anos, diz o Datafolha.
Mas o grupo esquerdista já foi maior. Em junho deste ano, chegou a representar 28% do eleitorado. No outro extremo do espectro político, a soma dos eleitores que se dizem de direita com os que se consideram de centro-direita oscilou de 37% para 36% desde 2010, de acordo com a pesquisa do Datafolha.
Após pedir aos entrevistados que se posicionassem no espectro político, o instituto calculou uma média para a população com base nas respostas, atribuindo 1 às posições mais à esquerda e 7 às posições de extrema direita.
A média resultante foi 4,4, ligeiramente superior aos 4,1 de junho e inferior aos 4,7 calculados em 2010. Por esse critério, o Brasil se afastou um pouco do centro, mas ainda pende para a direita.