Quinta-feira, 16 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de outubro de 2017
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
É incompreensível e inacreditável que alguém tenha, sob sua guarda, em um País civilizado, em um momento em que não há guerra, nem rebelião doméstica, 40 armas de fogo (41 para ser mais exato).
O tresloucado pluri homicida, Stephen Paddock, 64 anos de vida, discreto, enganou até seus vizinhos durante, pelo menos um semestre, com seu ar de “aposentado com jeito ermitão”.
Não fosse a Emenda nº 2 da Constituição bicentenária dos Estados Unidos, redigida em grande parte pelo equilibrado político, destacado jurista e, por isso – e por outros méritos – exemplar estadista, Jefferson, não se estaria, agora, em outro tempo. Em um mundo de gente, fatos, circunstâncias e valores que, impelidos pelo acelerador de mudanças, se inovam e se diferenciam a cada instante entre si e, muito mais, entre o que é de agora – rapidamente alterável e alterado – e o que foi – bem mais duradouro – em priscas eras, criaram e conservaram a modelagem societária – então, quase imutável – por muito tempo.
Recordemos que tudo – ou quase tudo – na vida norte-americana – exceção dos povos indígenas – começa com a chegada dos “pilgrims” (crentes radicais). Em parte, surgiram de plagas britânicas e também vieram para melhor professar sua fé. Da Europa partiram, crentes em um novo mundo (que não existia) mas que, por eles e com eles, foi possível criar.
Sem planejamento, mas com a anuência, que era uma ordem da Coroa londrina, então dominadora dos mares e de grande parte das terras “descobertas”, os fiéis desbravadores e/ou penalizados expulsos instalaram-se na costa marítima, hoje território dos Estados Unidos da América.
Expostos à desproteção de uma natureza não domesticada, sem antecedentes e sem antecessores que lhes abrissem caminhos, fanáticos da fé, sofridos e perseverantes, fundaram as 13 colônias que seriam – e foram – os alicerces de um grande país. Ousados, fizeram-se independentes.
Foi aí que os britânicos aperceberam-se que os “enjeitados” de ontem eram os sobreviventes de uma grande empreitada que poderia criar um novo país com perigosa vocação de soberania.
Da Guerra à Independência foi um passo curto e óbvio. Os peregrinos, defenderam, com o combustível da paixão, a terra que haviam conquistado, com seu trabalho, fazendo-a produtiva.
Não tinham exército mas iriam todos lutar. Formariam a “tropa da luta divina”. Jefferson arquitetou, então, a Emenda Constitucional que permitia (e permite) a todo o cidadão, transformar-se, naquele então, em um miliciano, fazer-se soldado e ter todas as armas que o ajudariam a defender seu palmo de terra. A emenda foi aprovada e inserida na sintética e respeitada Carta Magna.
O direito oportuno de ter armas, forma de defesa de um povo que queria ser – e fez-se – nação virou, com tal origem histórica, emblema de liberdade individual e expressão de sociedade democrática.
Nada mais enganado e enganoso. O que foi solução para atender necessidade premente – verdadeira legítima defesa em combate da sobrevivência – transformou-se em perigosa e incontrolável tentativa instrumental de poder destrutivo, a critério, não mais de defesa do país, mas dos intentos, até criminosos, consequência dos desvios de conduta do insano e de suas perversidades.
O que levou, em tempos outros, a formular-se a Emenda 2 foi permitir aos inocentes peregrinos a possibilidade de não ser massacrados pela Armada inglesa. Ela serviu para que os crentes agricultores defendessem a terra que lavraram e a nação que estavam construindo.
A Emenda 2, há muitos e muitos anos, cumpria – e cumpriu – seu papel. Nasceu para proteger inocentes.
E bem o fez. Preservá-la é permitir que assassinos coletivos dela se apossem (como se tem apossado) para matar (59 inocentes em Las Vegas) em nome da democracia – que não praticam – e da liberdade, que deturpam.
Porque era humano, Jefferson podia fazer – e fez – muito pelo e em seu tempo.
Saber o depois era demais, até para ele.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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