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Por Redação O Sul | 7 de outubro de 2017
Setenta e sete baleias Jubarte encalharam este ano no Brasil, segundo reportagem da Rede Bahia. No Rio, em 24 horas, no mês passado, duas delas foram salvas por equipes de bombeiros e por moradores de praias por onde elas passaram. Faz sentido, portanto, a preocupação da NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration, na sigla em inglês), sobre a mortalidade incomum desse tipo de baleia ao longo da Costa Atlântica.
Em reportagem publicada no jornal The New York Times, a questão é tratada de maneira bastante detalhada. Ninguém sabe ao certo o que está causando tantas mortes, mas as investigações da NOAA levam a concluir que pelo menos metade delas morreram por colisão com navios. A outra metade pode estar sofrendo por causa do aquecimento dos mares. No Golfo do Maine, que fica na Costa da América do Norte, estão sendo registrados os índices mais rápidos de elevação da temperatura do mar de todo o planeta. E essa variação de temperatura pode estar afetando as baleias, que precisam se deslocar mais para buscar alimentos.
Como elas precisam nadar mais para ter o que comer, os acidentes com os navios são mais frequentes. Equipes de técnicos especialistas em estudos sobre a vida das baleias jubarte chegaram à conclusão, após acompanharem a migração de uma delas, que essas maravilhosas criaturas dos oceanos são capazes de percorrer um quarto de todo o caminho da Terra.
“São animais muito difíceis de estudar. As baleias Jubarte passam a maior parte de suas vidas debaixo d’água. Recebemos breves olhares quando elas tiram as caudas da água e, se alguém está casualmente com uma câmera, conseque capturar a imagem”, disse Judy Allen, diretora-associada da Allied Whale, uma organização não governamental que fica no Maine.
O trabalho dos pesquisadores tem sido especialmente duro este ano, por causa das mortes sucessivas e inesperadas. Até o momento, em 2017, doze cadáveres surgiram no Canadá e outros três nos Estados Unidos, enquanto os pesquisadores da região registraram apenas cinco nascimentos.As últimas estimativas, antes das mortes, é de que há 458 espécimes dessas baleias no Atlântico Norte.
Aqui vale a pena lembrar um pouco da história desses bichos. Há cerca de 50 milhões de anos, as baleias eram mamíferos terrestres, com cascos. Foram passando por transformações até que os cascos viraram barbatanas e elas se tornaram criaturas do mar. Eram grandes, mas não eram enormes, segundo os pesquisadores que publicaram um estudo em maio deste ano na revista “Proceedings of the Royal Society B”. Quatro milhões de anos atrás, porém, começaram a ser vistas as gigantes espécies de Baleia Azul em diferentes oceanos pelo mundo afora.
A suspeita maior é que deve ter havido uma mudança no clima, o que teria levado ao aumento do tamanho das baleias porque os oceanos passaram a oferecer um tipo de alimento mais eficaz para esses bichos. Vários estudos já foram feitos e a conclusão foi de que, naquela época, começaram a surgir as primeiras geleiras que, pouco a pouco, foram cobrindo o Hemisfério Norte.
As baleias já tinham condições anatômicas para receber os alimentos que só começaram a ser produzidos pelos mares tempos depois. Mas elas precisavam ter também, além dos plânctons certos nas horas das refeições, bastante espaço para comer e, assim, não esbarrarem umas nas outras.
Uma linda história que pode estar prestes a se acabar, se essas mortes registradas agora pelos pesquisadores, e confirmadas até mesmo por nós, brasileiros, realmente começarem a acontecer com maior frequência. As baleias podem estar prestes a passar por outra transformação, também causada por uma forte mudança no clima do planeta que habitam a tanto tempo.
Estudos divulgados por quem entende do assunto ainda no periódico britânico Proceedings of the Royal Society B, dão conta de que, entre outras coisas, as baleias são importantes porque sequestram o carbono liberado pela industrialização excessiva e pelo abuso do combustível fóssil. Ou seja: limpam parte da sujeira que o homem espalha pela atmosfera. E suas fezes servem como um poderoso alimento para pequenos seres marítimos que, por sua vez, alimentam peixes diversos, muitos dos quais nos alimentam.
Em “agradecimento”, como lembra o jornalista Claudio Ângelo no excelente livro “A Espiral da Morte – Como a humanidade alterou a máquina do clima”, durante grande parte do século XIX e início do século XX, os homens passaram a usar e abusar desses animais, transformando as baleias em “petróleo do planeta”.
“Seu óleo iluminou as ruas de Nova York, Londres e Rio de Janeiro; seu couro era usado em roupas e sapatos; seus ossos integravam eixos de carruagens e as barbatanas de suas bocas eram usadas em sombrinhas e espartilhos. Da margarina a óleo de motor, passando por ração animal e pela glicerina das bombas das duas guerras mundiais, tudo o que movia a civilização vinha dos gigantes do mar”, escreveu o jornalista, hoje um dos coordenadores da ONG Observatório do Clima.