Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 7 de outubro de 2017
Peça-chave no escândalo da Operação Imperador, chamada de Lava-Jato da PM (Polícia Militar), em São Paulo, o comerciante Márcio Luiz dos Santos afirmou ,ao depor na Justiça Militar, que o tenente-coronel José Afonso Adriano Filho o ameaçou de morte: “Bico calado, que aqui você está mexendo com peixe grande”. Santos entendeu que a ameaça era “agravada pelo fato de lidar com policiais”. O comerciante havia vendido para o coronel uma empresa – a Contruworld – usada no esquema de fraudes.
Santos contou que estava quebrado quando o coronel lhe fez a proposta de comprar a empresa. “Não tenho crédito em lugar nenhum. Meu carro é um Logan 2008.” A empresa foi vendida por R$ 5 mil, mas não foi passada para o nome de Adriano. “Ele [o coronel] sabia que eu estava falido. Foi tudo verbal.”
De acordo com Santos, o coronel passou a usar então a Construworld. “Eu ficava com os talões [de cheques]. Tudo assinado.” Por causa da ameaça a Santos, Adriano teve a prisão preventiva decretada pela Justiça Militar. O advogado do tenente-coronel, Luiz Antonio Nunes Filho, nega que seu cliente tenha ameaçado as testemunhas.
A Construworld fechou 207 contratos para obra na PM. Eles foram considerados irregulares pelo Ministério Público Estadual, que denunciou Adriano e o capitão Dilermando César Silva. O capitão nega ter ficado com recursos do esquema. Ao depor, disse ter assinado documentos sem ler.
Esquema fraudulento
Preso preventivamente desde março e expulso da PM em agosto por determinação do TJM (Tribunal de Justiça Militar), Adriano é apontado pelo Ministério Público como envolvido em um esquema de corrupção no DSA-CG (Departamento de Suporte Administrativo do Comando-Geral), ligado ao comando da PM, que pode ter causado um prejuízo de mais de R$ 300 milhões entre 2005 e 2012.
Adriano agora promete entregar informações sobre supostas irregularidades ocorridas em três licitações feitas pela Polícia Militar que envolviam a compra de Palios Weekends ELX, peças para carros e tablets. Juntas, elas teriam representado contratos de R$ 100 milhões.
O tenente-coronel nomes de dois coronéis da reserva e um da ativa da PM às supostas irregularidades. Além deles, outro coronel está sendo investigado.
A Corregedoria da PM está avaliando a evolução patrimonial dos oficiais
Por enquanto, 16 policiais já foram indiciados e dois processos abertos. Ao todo, 5 mil contratos são investigados, envolvendo 523 empresas. Os processos fraudulentos de compras eram feitos no DSA, órgão do Comando-Geral da PM. Mas era no Grupo de Planejamento Setorial (GPS), da Secretaria da Segurança Pública, que o dinheiro era liberado irregularmente.
Na sexta-feira, Adriano acompanhou os depoimentos de um major da Corregedoria da PM e de uma testemunha – Miriam Francioni dos Santos, que era apontada pelas investigações como uma das laranjas de Adriano. Miriam fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Estadual (MPE). Ela é irmã de outro suposto laranja de Adriano, o comerciante Márcio Luiz dos Santos.
Ela contou que o coronel comprava carros em seu nome e no dos familiares dela para entregar a outros militares supostamente envolvidos no esquema. Também teria usado contas bancárias de sua família para movimentar recursos. Dinheiro desviado teria ainda custeado a reforma das casas de dois coronéis, entre eles um dos 18 que Adriano citou na carta com a qual iniciou a negociar sua delação com o MPE.