Quarta-feira, 25 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 23 de outubro de 2017
A esperança dos brasileiros na Lava-Jato continua, mas a percepção de que a classe política vai conseguir pôr um ponto final nas investigações cresce a cada dia. É o que mostra a mais recente pesquisa Pulso Brasil, do instituto Ipsos, sobre o futuro da maior operação anticorrupção já deflagrada no País.
Entre os entrevistados, 94% disseram que “a Lava-Jato deveria continuar com as investigações até o fim, custe o que custar”. Ao mesmo tempo, de julho para setembro, cresceu de 19% para 33% o índice dos que acreditam que “a classe política vai acabar com a Lava-Jato”.
Além disso, a pesquisa apontou em setembro que, para 76% dos entrevistados, a operação “vai fortalecer a democracia no Brasil”. Embora a crença no poder transformador da Lava-Jato ainda seja significativa, ela já foi maior. Em maio, 86% se diziam confiantes na contribuição da operação para o amadurecimento da democracia no País.
Ainda segundo o levantamento, 71% concordam que a Lava-Jato pode transformar o Brasil em um país sério. Mais da metade dos entrevistados (56%) acredita que a operação está investigando todos os partidos, mas 40% já sentem o cheiro de “pizza” saindo do forno. A pesquisa ouviu 1.200 pessoas entre 1º e 12 de setembro.
Para o cientista político Vitor Oliveira, o desejo quase que unânime de que a operação “continue até o fim, custe o que custar” remonta aos primeiros dias do movimento pró-impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff. “Esse desejo ainda é resquício daquilo que parecia ser um dos poucos consensos na sociedade: a importância da Lava-Jato. A operação sempre esteve acima das instituições que ela investigou e investiga. Por isso, ainda guarda esse prestígio entre a população.”
Apesar do “prestígio”, Oliveira se concentrou no dado que aponta a percepção popular de um contra-ataque político em relação aos desdobramentos das investigações. “A ideia de que a Lava-Jato não vai atingir os políticos começa a crescer quando a operação esbarra no foro privilegiado, quando esbarra em nosso próprio sistema e na lentidão dos julgamentos.”
“É evidente que a tramitação no STF (Supremo Tribunal Federal) é diferente do que acontece em Curitiba, com o juiz Sérgio Moro [que conduz a Lava-Jato na primeira instância]. Às vezes, isso causa confusão na população, que acaba entendendo que a própria Lava-Jato estaria fraquejando na hora de condenar os políticos”, afirmou Oliveira.
“A pesquisa mostra que o anseio por justiça continua sendo melhor representado pela Lava-Jato, mas, ao mesmo tempo, indica que a população não está indiferente ao poder de reação do mundo político aos seus desdobramentos”, disse o diretor da Ipsos Public Affairs, Danilo Cersosimo.
Lula
Já para o cientista político Rodrigo Augusto Prando, a percepção de que o mundo político pode frear a Lava-Jato pode ser ilustrada com o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Veja o caso do ex-presidente. Embora condenado em primeira instância, ele continua livre e fazendo campanha pelo Brasil contra a própria Lava-Jato. Isso é muito forte. A Lava-Jato colocou empreiteiros na cadeia, mas não conseguiu que Lula se tornasse um indivíduo como outro qualquer e fosse preso.”
Prando ainda citou outros fatores para que o receio de que a Lava-Jato termine esmagada pela política cresça. “Além do Lula, o excesso de ativismo do Judiciário também trouxe desgastes à operação. Também podemos colocar nesse pacote as ações do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot. A forma como a delação dos irmãos Batista da JBS foi tratada serviu para o desprestígio da investigação”, afirmou.
O cientista político Marco Antônio Teixeira, da FGV (Fundação Getulio Vargas), disse que os resultados da pesquisa mostram que a Lava-Jato se prolongou demais. “Apesar da duração da operação, a população ainda não viu uma melhora do quadro político – e até alguns apoiadores ferrenhos da Lava-Jato já foram pegos em casos de corrupção”, afirmou. “Então, começa a arrefecer a sensação de que a Lava-Jato pode acabar com os abusos da classe política. Ao contrário, aumenta a sensação de que a classe política é quem vai triunfar.”