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Brasil Número de vítimas de imagens íntimas vazadas na internet quadruplica em dois anos

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Vazamento de imagens íntimas atinge principalmente mulheres, que representam 81% dos casos denunciados. (Crédito: Reprodução)

O número de vítimas de vazamento de “nude selfies”, ou vídeos íntimos divulgados sem consentimento, quadruplicou no Brasil em dois anos. Em 2014, 224 internautas procuraram o serviço de ajuda da SaferNet, organização de defesa de direitos humanos na internet, para denunciar o crime cibernético conhecido como “revenge porn” (“pornografia de vingança”, em tradução livre). Em 2012, 48 casos haviam sido registrados pela entidade.
O vazamento de imagens íntimas atinge principalmente mulheres, que representam 81% dos casos denunciados. A cada quatro vítimas, uma delas é menor de idade. A estudante Mônica Pimentel, 18 anos, encaixa-se nos dois perfis: é mulher e era menor de idade quando sofreu com o vazamento de material íntimo.

Cinco fotos e um vídeo em que aparece tomando banho foram feitos quando tinha 14 anos e começaram a ser compartilhados pela primeira vez após dois anos, em sites, grupos de bate-papo e redes sociais. “Eu pensava: o que vou fazer? Vou sentar e chorar? Não. Eu sou a vítima disso. Posso ter agido com irresponsabilidade, mas a culpa não foi minha, porque o opressor foi quem divulgou”, conta a estudante, hoje mãe de um bebê de 2 meses.

No ano passado, aos 17, surgiu um novo capítulo do pesadelo para Mônica, quando estava grávida. As fotos e o vídeo voltaram a ganhar espaço na rede. O assunto reverberou tanto que, na época, a jovem ouviu comentários de uma garçonete, em um bar e da veterinária onde costumava levar seus cachorros. Até a mãe acabou ouvindo histórias sobre a própria filha. “Minha mãe ficou bem triste [quando soube do vazamento]. Meu pai ficou bravo de início, mas depois ignorou”, afirma.

 
“Foi pesado. E eu só me preocupava com o meu bebê”, conta. Com uma repercussão bem maior do que antes, a estudante resolveu procurar a Justiça para processar o garoto com quem havia ficado três anos antes, a única pessoa com a qual compartilhou o material. “Recorri à Delegacia da Mulher. Só que o processo é tão enrolado, tão demorado e burocrático, que você acaba até desistindo. Parece que quanto mais contato você faz em relação a isso, mais próxima [do caso fica] e mais constrangimento sente.”

Falta de punição.

Para Juliana Cunha, coordenadora psicossocial da SaferNet, a lentidão e a dificuldade para punir o responsável pelo vazamento das imagens são fatores que contribuem para que os casos continuem crescendo – apesar de o número da ONG ser expressivo, ela destaca que há ainda muita subnotificação. Quando as fotos envolvem menores de idade, o crime é classificado como pornografia infantil. Já quando as imagens são de maiores o crime previsto pode ser o de injúria ou difamação ou então ser levado para a vara cível.

Por não confiar que haveria uma punição, Ana Beatriz Unello, 21, não quis denunciar um ex-namorado que divulgou suas imagens quando ela tinha 17 anos. “Eu não queria continuar essa história, ter de ir atrás dele e continuar pensando nesse assunto”, afirma.
As fotos de Ana Beatriz foram divulgadas pelo ex após o fim do relacionamento. “Ele usava as imagens [capturas de telas de conversas pela webcam] para me chantagear”, conta. Após quatro meses de ameaças, o rapaz, que na época tinha 18 anos, criou um perfil falso em uma rede social para publicar as imagens da ex-namorada.
A jovem procurou ajuda na SaferNet quando o ex-namorado ainda fazia apenas ameaças e, por isso, foi orientada a pedir apoio à família. “Ter meus pais ao meu lado foi fundamental. Porque foi essa a primeira coisa que eu pensei: que eu iria perder o amor, o apoio, o carinho deles. Só depois é que pensei na minha reputação, no que os outros iriam pensar, no meu emprego”, ressalta.

Mesmo três anos após o vazamento das imagens, Ana Beatriz diz que ainda tem medo de que as fotos possam ser divulgadas novamente. (AE)

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