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Colunistas O trainee barbudo

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O regime militar no Brasil durou 21 ano. (Foto: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O regime era militar. O ano de 1975. A indústria automobilística, sendo multinacional, conhecia e utilizava práticas – que as usava tanto na Europa quanto nos Estados Unidos – de negociação coletiva, nas quais o Sindicato era figura decisiva.O regime era militar. O ano de 1975. A indústria automobilística, sendo multinacional, conhecia e utilizava práticas – que as usava tanto na Europa quanto nos Estados Unidos – de negociação coletiva, nas quais o Sindicato era figura decisiva.

No ABC, por isso mesmo, já ganhara seus primeiros espaços o Sindicato dos Metalúrgicos. Sua base era São Bernardo e quem o presidia era um sindicalista do novo tempo: Paulo Vidal, habilitado e habilidoso, além de persistente fazia bem o papel de negociador pragmático. Sem radicalismos mas comprometido com suas metas e seus números.

No momento em que na Volks começou, fora da época prevista e sem data formal fixada, um movimento precoce, reivindicando aumento de salários, distribuindo panfletos com linguagem reivindicatória forte, fez nascer as primeiras e difíceis tratativas entre patrões e empregados, impulsionadas por demandas remuneratórias. Nesse interim e nesse contexto surgiu, ainda jovem, um operário barbudo (mais que os demais) quieto, com um visível aspecto de aspirante a líder sindicalista. Não lhe ouvi a voz (eu era Secretário Nacional do Trabalho). Ele era um observador atento. Parecia envergonhado e tímido. Era acompanhante para –  assessorar (?) e/ou fiscalizar – o Presidente Vidal.

A nossa missão especial era devolver o seu a seu dono (tinha ocorrido durante o Governo anterior uma “ocupação” de, pelo menos, 200 entidades de trabalhadores, vitimadas por “autoritários atos” intervencionistas governamentais”). Como Secretário Nacional do Trabalho, em menos de seis meses, tínhamos  entregue, de volta aos trabalhadores, bem mais de 60% das entidades que tinham perdido sua autonomia.

No entanto, movimentação não prevista no ABC inquietou a postura hermética do Governo, ainda não afeito totalmente a contestações. O sucedido oportunizou duas ou três reuniões em Brasília, ante o “fato novo”, da panfletagem, na porta da fábrica, na qual se dizia  que todos os operários eram parte do processo da luta (pedido de aumento salarial).

E dizia mais, nesse panfleto, que divulgou a demanda remuneratória: que no ABC, o não acolhimento, pelos patrões, do aumento pedido, significaria a paralisação.

Enfim: aumento ou greve.

Nesses termos e no contexto da época, se fez mais difícil o diálogo entre as partes por razões diversas. Faltava tradição de convívio nesse tipo de procedimento. De um lado, um Governo que estava acostumado a impor, não a propor. De outro, sindicalistas brasileiros, sem nenhuma técnica  antes aplicada em casos reais, com uma assessoramento de pessoal das multinacionais, acostumados na Europa/USA com um contexto político e jurídico completamente diferentes.

Com esse quadro, e ante a necessidade, que os fez razoavelmente criativos, chegaram a uma situação-limite de tensão. A greve, anunciada pelos panfletos, ocorreria em 48 horas. Era tudo que o Governo não queria.

Marcou-se, na emergência, uma reunião em São Paulo, no restaurante do Aeroporto de Congonhas. Ali o emissário do Governo vinha num bate-volta e já estando no Aeroporto facilitaria seu retorno.

Depois de duas horas, muito cafezinho e a pestilência fumacenta de vários cigarros (não era proibido) ficou combinado que o Governo não mexeria na política salarial, mas criaria um abono mensal, fixado em cerca de 60% do pedido pelo Sindicato. Do outro lado, se suspendia a greve e, obviamente, a distribuição dos panfletos.

E tudo ficou na valia da palavra dada. O negociador (parece fácil identifica-lo …) voltou a Brasília. Vinte e quatro horas depois do encontro era publicado o acordado numa edição extra do Diário Oficial, ao mesmo tempo em que o Sindicato recolhia os panfletos e a greve era suspensa.

Foi no final da reunião de Congonhas que o discreto sindicalista – ainda noviço – falou. Disse que fora um avanço; enfim, uma vitória, mas completou: “ bom mesmo, era “se a gente” conseguisse 100%; mas “a gente” vai continuar pedindo.

Sem conhecer a figura do líder sindical dos Estados Unidos, o  ainda “trainee” de líder operário, repetiria, parafraseando o poderoso dirigente da AFL-CIO: “líder sindical é o que pede mais, mais, e sempre mais”.

Na próxima crônica vamos biografar o “trainee” barbudo que subiu – ele também – mais e mais, para depois, cair mais, mais, e sempre mais!

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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