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Por Redação O Sul | 6 de janeiro de 2018
Ao longo desse sábado, pequenas multidões se reuniram do lado de fora de diversos supermercados de Caracas, capital da Venezuela, esperando a abertura das portas, depois que o governo do presidente Nicolás Maduro obrigou os estabelecimentos do setor a reduzirem os preços dos alimentos. Esse foi mais um tumulto em meio à crise gerada pela escassez de alimentos no país chavista.
Autoridades ordenaram na sexta-feira que supermercados remarcassem os valores para os níveis de um mês atrás, redução considerada drástica, levando-se em conta a hiperinflação da Venezuela. Isso provocou enormes filas. Em uma das casas comerciais, centenas de pessoas incluindo bebês, pensionistas e crianças com deficiências se reuniam, gerando cenas caóticas.
“Na minha casa, já não comemos três vezes por dia”, disse Mileidy Acosta, 28 anos, ao lado de três crianças. “As pessoas estão cansadas. Uma pessoa que ganha um salário-mínimo neste país não pode comprar nem molho de tomate.”
Maduro elevou o salário-mínimo neste ano, mas com a taxa de câmbio no mercado negro, essa renda representa apenas 2 dólares por mês. A moeda venezuelana se enfraqueceu 98% perante ao dólar norte-americano no último ano. Além da fome que afeta milhões (pessoas se alimentando de restos no lixo são cenas cada vez mais comuns, segundo relatos), a falta de medicamentos é outro problema grave no país, sendo responsável inclusive por mortes.
O regime de Maduro, por sua vez, culpa a oposição, os Estados Unidos e empresários pelos problemas e afirma que estão travando uma “guerra econômica” contra seu governo. Os críticos são implacáveis ao apontar, dentre as causas da atual situação, os controles rígidos do câmbio e dos preços, adotados inicialmente há mais de uma década, além de uma política econômica mal planejada.
Incidente
No último fim de semana de 2017, autoridades venezuelanas prenderam um soldado da Guarda Nacional acusado de matar uma grávida de 18 anos durante tumulto em uma fila de distribuição do alimento. O motivo da confusão era a falta de carne de porco.
De acordo com uma mensagem postada no Twitter pelo procurador-geral da Venezuela, Tarek Saab, a jovem Alexandra Colopoy foi baleada pelo primeiro-sargento David Rebolledo. Não foram fornecidos mais detalhes sobre o incidente, mas críticos do governo de esquerda do presidente Nicolás Maduro descreveram o ocorrido como um exemplo da crise vivida pelo país chavista.
Segundo a mídia local, o marido de Alexandra e uma testemunha disseram que os soldados estavam bêbados quando chegaram a uma fila para distribuição de carne de porco em uma área de Caracas. Eles disseram que os soldados ordenaram que os venezuelanos fossem embora porque a tradicional carne de Natal havia acabado, mas o grupo se recusou.
“A Guarda Nacional ficou louca e começou a atirar”, relatou o marido de Alexandra, Bernabé, em entrevista filmada e reproduzidas nas redes sociais. “Ela caiu no chão”, acrescentou. A jovem estava no quinto mês de gestação. Um irmão dela também foi baleado, mas já está se recuperando.