Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 18 de fevereiro de 2018
A ex-senadora Marina Silva, pré-candidata pelo Rede à Presidência da República, dá sinais de que estruturará sua campanha na vertente da rejeição e do combate à corrupção. Na próxima eleição, acredita, é possível promover uma faxina ética no Congresso. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, a ex-ministra do Meio Ambiente lembra que “estes mais de 200 deputados e senadores deveriam estar sendo investigados e julgados”.
1. Sua estratégia de campanha é a da rejeição à corrupção ou a do crescimento econômico?
Vou continuar como tem sido o percurso desde 2010, apresentando um programa de desenvolvimento sustentável para o Brasil. A ética não pode ser bandeira de ninguém, mas condição sine qua non para qualquer atitude na vida. Tem que ter políticas públicas voltadas para prevenir e combater a corrupção e promover uma gestão pública republicana. Não podemos ter supervalorização de uma coisa em detrimento da outra. É fundamental que a política se recupere e também a economia do País.
2. Pode detalhar?
A segurança pública virou um caos e é uma prioridade. A recuperação do emprego é prioridade, temos 12 milhões de pessoas desempregadas. A sociedade foi encontrando meios de sobreviver, não é porque temos uma recuperação mais estruturada da nossa economia. Saúde é um caos, a educação também. Qual é o Brasil dos próximos 20 anos?
3. Como vê a eleição?
Não vamos ter mudança nenhuma de estrutura se não mudarmos de postura. Este é o momento da hora da verdade, a eleição vai ser a eleição da verdade. Tem mais de 200 deputados e senadores sendo investigados na Lava-Jato. Esta é a grande oportunidade de se demitir pelo menos estes 200.
4. Qual sua estratégia de campanha tendo apenas 10 segundos de TV?
Com o diálogo com os partidos. Para conversar não é preciso que os partidos abram mão de seus candidatos, até porque é uma eleição em dois turnos e a gente pode se encontrar no segundo turno com homens e mulheres de bem que queiram de fato mudar o Brasil.
5. Algumas pessoas, depois da última eleição, se afastaram um pouco da senhora. Como reage a isso?
Estou aqui graças ao trabalho e apoio político de muitos. São três eleições e as pessoas que caminharam comigo têm uma importância significativa para a sociedade brasileira, nos lugares em que elas estejam. Não entendo a contribuição política das pessoas como algo estanque. Não perdemos a capacidade de diálogo.
6. Que tipo de política econômica recomendaria à sua equipe? Acha correta a política de juros altos adotada nos últimos anos?
Estamos em uma crise econômica, saímos agora de uma recessão de três anos, mas não estamos vivendo uma recuperação em função de investimentos. E neste contexto temos de ter medidas para que a economia possa se recuperar de forma sustentável.
7. Quais questões?
Temos que pensar uma recuperação econômica que não tenha que abrir mão da ética pública. E ter foco em políticas públicas que não prejudiquem cada vez mais os mais vulneráveis.
8. Quer dizer seguir com o Bolsa Família?
Sim, e a construção da base política para um modelo de desenvolvimento que seja justo e sustentável, com proteção dos recursos naturais e previsão de recursos para que a gente possa fazer a distribuição de renda e combater as desigualdades sociais. Quando penso uma política voltada para a economia, seria a reestruturação da dívida pública.
9. E a política de juros?
A política econômica teria de combinar o equilíbrio fiscal e o controle da inflação. Juros baixos são fundamentais. A política de juros altos dificulta o caminho do investimento. Não se deve pensar em controlar a inflação apenas com elevação de juros, é preciso ir à busca de novos mecanismos. No investimento, é fundamental a credibilidade. Hoje a maior parte dos problemas de investimentos no Brasil vem da falta de credibilidade em função da crise política que temos desde 2014.
10. Acha que a reforma da Previdência é assim tão urgente?
O próprio presidente Temer inviabilizou a reforma da Previdência quando mandou o projeto. Não havia espaço de diálogo com os diferentes segmentos que seriam atingidos por ela.
11. Como a senhora enxerga a economia de modo geral? Defende manter o caminho atual ou não?
Em 2010 eu tinha a crença que era preciso fazer a reforma da Previdência e que precisávamos alcançar o regime de capitalização. Hoje este processo está bem comprometido. Eu colocava a necessidade de que deveríamos reduzir o rombo do gasto público e estabelecer o limite de que os gastos só seriam a metade do crescimento do PIB. Falava na necessidade de uma reforma tributária que não aumentasse a carga tributária mas criasse critérios de transparência, de justiça tributária, de simplificação. Sempre defendi que o Plano Real era uma conquista da sociedade brasileira e que não poderia ser alterado.