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Por Redação O Sul | 25 de fevereiro de 2018
Uma tropa que recebe treinamento de alto nível, com sede em Goiânia, Goiás, chegou ao Rio de Janeiro para ficar na linha de frente da intervenção federal na área da segurança pública do Estado, sob o comando do general Walter Souza Braga Netto. O Batalhão de FEs (Forças Especiais) do Exército conta com aproximadamente 2 mil homens. São comparados aos Navy Seals da Marinha norte-americana, que mataram Osama bin Laden no Paquistão, em 2011. Esses militares, preparados para ações antiterror, têm nas mãos uma missão muito difícil: expulsar o tráfico e as milícias de algumas favelas cariocas.
Na caserna, entre os militares, seus integrantes são chamados de “fantasmas” por atuarem nas sombras, em operações sempre cercadas de sigilo.
É por isso que se espera, nas ruas, um resultado muito diferente dos obtidos até agora pelas operações de Garantia da Lei e da Ordem no Rio. Os integrantes das Forças Especiais passam por um rígido processo de seleção no Forte Imbuí, em Niterói, no Rio, antes de seguirem para um mínimo de cinco anos de preparação em Goiânia.
O símbolo das Forças Especiais foi criado para passar a imagem de que seus homens são os mais temidos do Exército. No brasão dos FEs, como são chamados, aparece uma mão empunhando uma faca. Não por acaso, ela está com uma luva, referência às ações sempre discretas, que não deixam rastros. A lâmina está manchada de vermelho.
Até mesmo o fundo do desenho, na cor preta, tem um significado: a tropa, preferencialmente, age à noite. O primeiro grupo de FEs desembarcou no Rio no dia 16, e, na madrugada de sexta-feira, fez uma incursão à Vila Kennedy antes da chegada de 3 mil homens do Exército à comunidade.
Enquanto os homens do batalhão da PM (Polícia Militar) inspiraram os filmes da franquia “Tropa de elite”, os FEs atuam cercados de mistérios.
Carreira
Só militares de carreira podem ser FEs. Se o candidato à tropa de elite do Exército for um sargento, além do período de cinco anos na Academia Militar, ele precisará de mais dois para concluir sua formação. Há ainda três cursos obrigatórios.
O primeiro é o básico de paraquedista, que dura seis semanas. Em seguida, começa o de comandos, com carga horária de 800 horas, distribuídas ao longo de quatro meses, durante os quais são ensinadas técnicas de uso de explosivos e de combate e infiltração. A etapa final exige 1.200 horas de treinamento.
Os FEs são treinados para atuar com discrição absoluta, mas a tropa especial já foi acusada de perder o controle da situação e provocar uma explosão de violência. A tropa foi colocada sob suspeita de envolvimento na morte de oito pessoas no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, em novembro do ano passado. O Comando Militar do Leste, no entanto, nega a participação de “fantasmas” no caso.
Os “fantasmas” do Exército brasileiro atuaram em diversas ações no Rio nos últimos anos. Ao contrário de outras tropas, eles preferem não dar publicidade às suas ações. De acordo com o coronel da reserva Fernando Montenegro, os FEs agiram durante a ocupação do Complexo da Maré pelas Forças Armadas, entre 2014 e 2015. O coronel, que coordenou ações do Exército na região, afirma que os FEs tiveram papel importante. O Centro de Comunicação Social do Exército informou que o grupo também fez trabalhos no Complexo do Alemão, entre 2010 e 2012.
Ex-subcomandante do Batalhão de Forças Especiais, o coronel da reserva Roberto Criscuoli chama os FEs de multiplicadores, pela sua capacidade de atuarem no lugar de dezenas de militares comuns. Criscuoli, que foi colega de turma, no curso dos FEs, do general de divisão Mauro Sinott Lopes, braço direito do interventor federal general de Exército Braga Netto, se arrisca a dizer que uma outra vantagem do grupo é ser focado apenas na missão, com índice zero de corrupção.
“O maior desafio do interventor federal, sem dúvidas, será a corrupção nas polícias. Os FEs são blindados para não haver desvios de conduta. É uma tropa que consegue fazer com que as pessoas cooperem com a missão e confie nela. Uma das vantagens que Braga Netto terá com o emprego dos Forças Especiais é que ele fará muita coisa com um pequeno grupo de militares altamente qualificados, que não escolhem a tarefa”, disse Criscuoli.