Quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 26 de março de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Diante da repercussão da coluna “Cidade menos saudável” e de comentários sobre a mesma, sigo no delicioso debate do tema da urbanização e da ocupação dos espaços públicos por meio das práticas de exercícios físicos. Surpreso com a repercussão e com as inferências feitas sobre o texto, gostaria, primeiramente, de explicitar que não estou a questionar se a responsabilidade da atual situação da cidade de Porto Alegre pode ou deve ser atribuída apenas ao atual mandatário da prefeitura e do seus colaboradores. Me preocupa mais como vamos buscar resolver a temática do que buscar o pai deste estágio. Inclusive, muito me desagrada que antes de reconhecer o problema, as autoridades e seus assessores que buscaram contato comigo, por meio das redes sociais, se apressam em justificar que quando iniciaram seus mandatos a cidade se encontrava com estes problemas de mobilidade e de descuido com o espaço público utilizado para o lazer. Talvez por ter recebido uma educação com muito diálogo e amplamente fundamentada no questionamento crítico, não vejo a necessidade de explicações muito prolongadas sobre como Porto Alegre atingiu o fundo do poço no cuidado com o seu munícipe, mas sim como vamos buscar reverter esse quadro.
Buscando alternativas, encontrei o livro original “Leadership”, de Rudolph Giuliani, o ex-prefeito de New York (1994 – 2001), no qual o mesmo reporta como buscou viabilizar a saída da cidade de uma era de crimes para ser uma referência turística e de uso do espaço urbano. Uma das suas principais formas de ação, nas palavras do mesmo: “restaurar áreas públicas onde problemas de violência eram visíveis”. Nesse contexto, os parques da cidade foram peças chaves de transformação do uso do espaço público. Ao que tudo indica, aqui em Porto Alegre estamos presenciando a inversa situação e passamos a desocupação das áreas públicas, principalmente dos parques e praças. Autores relacionados ao urbanismo como o dinamarquês, Jan Gehl, sustentam que para obtermos políticas públicas mais efetivas faz-se necessário, além dos aspectos associados aos atributos dos próprios cidadãos, como interesse, suporte social e auto-eficácia, o acesso a espaços e locais para a prática, como parques e praças deve ser fácil e seguro. O autor lembra que em seu país, o uso de bicicletas como meio de transporte foi viabilizado por ser uma forma mais adequada no quesito ambiental e também por ser um meio transporte capaz de gerar ganho do ponto de vista de saúde. Fazer cidades para pessoas deveria ser a maior preocupação de uma administração pública. Utilizar as praticas de exercícios físicos como forma de privilegiar o uso do espaço público pode ser uma alternativa viável à redução dos índices de poluentes e de criminalidade.
E antes que eu seja taxado de utópico por estar utilizando como exemplo um nova-iorquino e um dinamarquês, lembro que, certa feita, o prefeito de uma cidade foi a Paris e se maravilhou com as paradas de ônibus com entrada USB para celulares. Eu particularmente estaria focado em como dar mobilidade a minha cidade ao invés de carregar o celular dos meus munícipes.
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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