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Por Redação O Sul | 23 de abril de 2018
Ofuscada por outras aplicações financeiras nos últimos anos, a caderneta de poupança recuperou o brilho em meio ao cenário de queda da Selic (a taxa básica de juros). A captação líquida voltou a ficar positiva em 2017, após amargar dois anos consecutivos de resgates superiores aos depósitos. A explicação é simples: enquanto o juro básico estava nas alturas, investimentos de renda fixa igualmente conservadores, como títulos públicos, CDB e fundos referenciados DI remuneravam os investidores a uma Selic de dois dígitos.
Com o ciclo de corte dos juros, iniciado em outubro de 2016, esse contexto começou a mudar, e a caderneta vem recuperando gradualmente o terreno perdido. “A poupança não é mais um patinho feio. Tem a vantagem sobre outros investimentos por ser simples e acessível para a maioria da população”, diz Jurandir Sell Macedo, planejador financeiro CFP e professor de finanças da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). Com o juro básico em 6,5% ao ano, a modalidade supera em rentabilidade os fundos de renda fixa com taxas de administração superiores a 1% ao ano, conforme levantamento da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Simulação realizada por Miguel José Ribeiro de Oliveira, diretorexecutivo de pesquisas e estudos econômicos da Anefac, deixa clara a diferença de ganho. Ao investir R$ 10 mil na poupança por um ano, o poupador terá acumulado R$ 10.455. Aplicada em um fundo de renda fixa com taxa de administração de 1,5% ao ano, a quantia totalizará R$ 10.441. “Na medida em que a Selic cai, aumenta o ganho da poupança, pois os fundos têm taxa de administração e incidência de IR. Além disso, os bancos que cobram taxa de administração ainda não a reduziram”, observa.
Em relação a outras aplicações, porém, a poupança perde atratividade. Segundo levantamento feito pelo buscador de investimentos Yubb a pedido do Valor, uma aplicação de R$ 10 mil, por um prazo de dois anos, renderia R$ 11.054,96 no Tesouro Selic, considerando as taxas vigentes em 13 de abril, enquanto o montante acumulado na poupança seria de R$ 10.884,79. Em igual período, um CDB prefixado que pague 8,85% ao ano ou uma LCI com taxa prefixada de 7,35% ao ano, também teriam rentabilidade maior que a caderneta. Para a pesquisa, foram consultados 1.465 títulos emitidos ou distribuídos por 173 instituições financeiras.
“A poupança vale a pena quando rentabilidade não for o fator principal a ser levado em consideração”, avalia Jaques Cohen, planejador financeiro CFP, da consultoria Lab do Valor. Ainda que a remuneração não seja das melhores, a caderneta tem ingredientes importantes para quem está formando reserva de emergência, por exemplo. Além de liquidez diária, Cohen destaca a agilidade do resgate como uma vantagem da poupança em comparação a demais investimentos. Essa característica, contudo, serve para planos de curto prazo. Ao traçar objetivos de médio e longo prazo, o investidor nem deve considerar a poupança como alternativa, concordam os especialistas.
Para Mauro Calil, especialista em investimentos do Banco Ourinvest, a poupança é boa opção para quem está começando a investir e funciona como instrumento didático. “Ajuda a acumular pequenas quantias antes de partir para algo mais sofisticado”, diz. O hábito de investir na poupança tem muito a ver com o chamado “viés do status quo” ou inércia, estudado pela psicologia econômica e que pode ser traduzido como comodismo ou comportamento preguiçoso, ainda que inconsciente. Para Michael Viriato, professor de finanças do Insper, a predileção pela caderneta é mais do que cultural. “A maior parte das pessoas não sabe que existem outros investimentos e isso faz com que o dinheiro seja aplicado na poupança”, afirma.