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Por Redação O Sul | 30 de abril de 2018
Os dez anos de estabilidade econômica no Paraguai levaram ao nascimento de uma terceira leva de brasileiros ao país quando o outro lado da fronteira passava pela pior crise em 80 anos. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
Atraídos pelas leis trabalhistas mais leves e os impostos baixos ou isentos, os investidores desta onda dedicam-se à indústria, sucedendo aos comerciantes que se instalaram na fronteira nos anos 1990 e os agricultores chegados na ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989).
Eles, porém, têm de lidar com as limitações do segundo país mais pobre da América do Sul, como a baixa qualificação profissional e a infraestrutura colapsada após uma década com crescimento médio de 5% anual, sem investimento no mesmo ritmo.
Os investidores brasileiros vêm atraídos por duas medidas aprovadas no fim da ditadura. A primeira é a lei 60/90, da isenção de impostos para a compra de maquinário e matéria-prima no exterior.
A outra é o regime de maquila, que assegura certificação de fabricação paraguaia a produtos que tenham ao menos 40% da composição de matérias-primas produzidas em qualquer país do Mercosul – parcela mais alta entre os membros do bloco.
É justamente por meio da segunda que se instala a maioria dos novos investidores brasileiros. Segundo o Ministério de Indústria e Comércio paraguaio, dois terços dos US$ 166,4 milhões (R$ 568 milhões) de investimentos que entraram sob o regime de maquila em 2017 vieram de empresas brasileiras.
A Câmara de Comércio Paraguai-Brasil estima que 12,5 mil paraguaios estejam empregados em firmas deste tipo. Seu presidente, Ruben Jakcs, considera o sistema uma oportunidade de diversificar mercados.
“Sei que o Brasil tem muitos custos trabalhistas, tem muita burocracia, por isso que o Paraguai pode ser um bom sócio para a internacionalização e plataforma para exportações.”
Por outro lado, considera um mito a ideia de que o país possa roubar empregos de brasileiros. “Temos 120 ‘maquiladoras’ de brasileiros. Só durante a crise fecharam 5.000 indústrias em São Paulo.”
Pelo esquema de “maquila”, as empresas ficam isentas de determinados impostos de importação desde que produzam no Paraguai e exportem produtos. A maior parte das empresas de capital brasileiro no Paraguai são indústrias de transformação de baixa qualificação, como a têxtil, de material elétrico e de autopeças.
Nos últimos dois setores, houve aumento de importação pelo Brasil mesmo em 2015 e 2016, auge da crise financeira. O volume de produtos do setor enviados do Paraguai saiu de US$ 96 milhões (R$ 328 milhões) em 2014 para US$ 197 milhões (R$ 672 milhões) em 2017, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento.
O setor agropecuário continua a ser o maior. O Paraguai foi em 2016 o sétimo maior exportador de carne do mundo – 60% da produção está nas mãos de brasileiros.
Há 27 anos no Paraguai, o pecuarista brasiguaio Nevercindo Bairros Cordeiro afirma que a alta demanda motivada pela promoção da carne paraguaia no exterior levou a um excesso de abates. “Até hoje conseguimos atender, mas precisamos aumentar o rebanho, e temos capacidade de aumentar porque as terras não estão tão caras como no Brasil.”
O ciclo virtuoso foi iniciado com as reformas do presidente colorado Nicanor Duarte em 2003 depois que o país entrou em calote parcial.
Houve redução de impostos, criou-se um fundo de infraestrutura rural com recursos das usinas de Itaipu e Yacyretá e uma agência de incentivo ao comércio exterior. A economia explodiu, mas o investimento não veio no mesmo ritmo. Assim como no boom da soja no Brasil, as estradas estreitas complicam o escoamento da produção.
Com o aumento do fluxo de veículos, o governo proibiu os caminhões bitrem. Também cresceu o número de apagões. O atual presidente, Horacio Cartes, iniciou reformas, mas ainda não tiveram seus resultados completos. Seu candidato, Mario Abdo Benítez, defende a continuidade do projeto.
Já o opositor Efraín Alegre põe ênfase na recuperação da energia para alimentar o Paraguai, mas em linhas gerais os dois não preveem grandes mudanças na gestão econômica.
“Nós, como classe produtora, às vezes não se preocupamos com a parte política, porque o país praticamente anda sozinho”, disse Cordeiro.
Em seu escritório em Assunção, o consultor Andrés Bogarín exibe as mercadorias produzidas por brasileiros no Paraguai. Ele, porém, afirma que é um processo de dois anos para partir para a criação das empresas. Para Bogarín, o tempo é necessário para desmistificar alguns mitos. “O brasileiro padrão chega aqui e acha que é Disneylândia, mas aqui é o Paraguai.”
Um deles é o uso de métodos ilegais. “O país está tendo cada vez mais formalização e controles. Se você é conhecido no ambiente comercial como um picareta, vai se queimar.”