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Por Redação O Sul | 16 de maio de 2018
O resultado do IBC-Br (Índice de Atividade Econômica), apontando uma retração de 0,13% da economia no primeiro trimestre, surpreendeu boa parte do mercado, que não contava com um desempenho tão fraco. Após a divulgação, vários analistas já informaram que revisarão para baixo as projeções para o PIB (Produto Interno Bruto), mas a maioria das consultorias e bancos ainda projetam um PIB “no azul” na comparação com o quatro trimestre de 2017.
O IBC-BR é um indicador criado para tentar antecipar o resultado do PIB, que é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Os números oficiais do primeiro trimestre serão divulgados no dia 30 de maio.
A retração registrada no primeiro trimestre de 2018 é a primeira desde o quarto trimestre de 2016, quando o IBC-Br apontou recuo de 0,78% na economia. A economista Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências, trabalha com uma projeção prévia de alta de 0,2% do PIB no primeiro trimestre, mas diz que está revisando os números em meio a série de indicadores que “surpreenderam para baixo” ao apontar um desempenho da economia pior que o esperado.
Ela avalia, entretanto, como pouco provável uma contração do PIB nos 3 primeiros meses do ano, na comparação com o trimestre imediatamente anterior: “Uma queda no PIB ainda parece pouco provável. Esse indicador tem boa aderência e correlação com o PIB no ano contra ano. Na comparação trimestre contra a trimestre não é muito bom”.
Já o economista Luiz Castelli, da GO Associados, diz que irá manter sua projeção de alta de 0,3% para o primeiro trimestre, mas que decidiu promover uma revisão para baixo ainda mais intensa na estimativa de crescimento da economia para o ano. A projeção que, inicialmente, passaria de 3,2% para 2,6%, agora foi para 2,2%.
“O resultado da prévia do PIB veio, de fato, abaixo do esperado. Eu não esperava que o primeiro trimestre fechasse em queda. Estava prevendo alta de 2,6% e acabei revisando de novo, para 2,2%, por causa do IBC-Br”, ressalta.
O Itaú anunciou na véspera projeção de 0,3% para o PIB no primeiro trimestre. Já o resultado para o ano fechado foi revisado na semana passada, de crescimento de 3% para 2%.
A LCA Consultores também revisou na véspera as previsões para o PIB do primeiro trimestre, quando o IBGE divulgou que o setor de serviços encolheu 1,5% no período, na comparação com o primeiro trimestre de 2017. A expectativa agora é que o PIB cresça 1,3% no primeiro trimestre, na comparação interanual, contra previsão anterior de 1,7%. Ante o quarto trimestre, a previsão foi mantida em 0,5%. “Os dados do IBC-Br ratificam essa revisão para baixo”, diz Rodrigo Nishida, economista da LCA.
PIB negativo
Já José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do banco Fator, não descarta a possibilidade de um PIB negativo no primeiro trimestre. Ele afirma que revisará até o fim da semana a sua projeção, que até então era de alta de 0,5% no primeiro trimestre.
“O IBC-Br aponta que o PIB do primeiro trimestre na margem não cresceu, talvez até tenha caído”, diz. “Não vejo grande otimismo para puxar uma recuperação”.O que é unanimidade entre os analistas é que a economia perdeu fôlego nos primeiros meses de 2018 e que a recuperação está mais lenta do que o inicialmente esperado.
Dentre os fatores que ajudam a explicar o ritmo mais fraco da economia, os economistas citam o alto desemprego, as incertezas políticas, o cenário externo menos favorável e também a ausência de estímulos econômicos adicionais que tiveram contribuição significativa para o resultado do PIB do ano passado.
“Tem dois pontos que não está tendo esse ano: safra recorde e liberação dos saques do FGTS. Outra fator é a incerteza política como um todo, que faz com que as empresas adiem os investimentos”, opina Castelli. Como principais frustrações e resultados abaixo do esperado, os economistas destacam também o crédito ainda caro e a demora no repasse da redução da Selic para a atividade econômica.
Apesar dos sinais de melhora no crédito, o endividamento das famílias e empresas continua alto, o que trava tanto o consumo como os investimentos. “Os número de pedido de recuperação judicial continuam bem altos, praticamente nos níveis de 2016, que foi um ano horrível”, observa Ribeiro.
Para Lima, além dos números fracos da indústria e do setor de serviços, preocupa também o fato de que os segmentos ligados ao consumo das famílias têm crescido menos do que a renda. “Tem aí uma mistura de desalavancagem e medo”, afirma, destacando que os consumidores estão pagando suas dívidas e guardando o dinheiro que sobra, diante da insegurança com o desemprego ainda alto.