Quinta-feira, 06 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de junho de 2018
A aliança encaminhada com o PR (Partido da República) de Valdemar Costa Neto dará ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) mais tempo de televisão, estrutura nos Estados e um vice-candidato com forte presença no meio evangélico, mas obrigará o polêmico parlamentar a repetir que essa coligação não significa um recuo no seu discurso de combate à corrupção.
Cientistas políticos acreditam que o pré-candidato do PSL (Partido Social Liberal) só receberá os benefícios esperados se conseguir explicar ao eleitor esse movimento político, afinal Costa Neto é um político condenado pelo escândalo do mensalão.
“Bolsonaro era um dos poucos que estava zero-quilômetro nesse debate sobre corrupção, mas ao fazer aliança com uma pessoa condenada vai se expor e vai ter que explicar muito”, projeta Ricardo Caldas, professor de Teoria da Corrupção na UnB (Universidade de Brasília). “Por mais que diga que busca a governabilidade, mais espaço para divulgar seus programas na TV e tudo o mais, vai gastar metade do tempo, pelo menos, explicando a aliança.”
“Se a estratégia eleitoral do Bolsonaro é muito ligada ao combate à corrupção, ele devia dar o exemplo, ele teria que mostrar que em suas alianças não está ninguém que esteja envolvido em acusações graves”, questiona o também professor Ricardo Ismael, da PUCRJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro).
Já para o professor Cláudio Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de São Paulo, a aliança mostra os laços que unem o presidenciável à chamada política tradicional. Ele também chama a atenção para o fato de que, em 2002, o mesmo Valdemar da Costa Neto esteve por trás da aliança que ajudou o petista Luiz Inácio Lula da Silva a chegar ao Palácio do Planalto pela primeira vez:
“Não é lá uma aliança muito coerente”, critica. “Bolsonaro tenta se vender como um político diferente dos tradicionais. E nada é mais tradicional que a figura do Valdemar, a de um cacique. É o contrário do que se imaginaria como algo novo, avesso à corrupção, até porque Valdemar foi até preso por corrupção”.
Couto acrescenta que, se o discurso anticorrupção é um dos principais argumentos de Jair Bolsonaro, “isso soa esquisito”. Além disso, compara, “foi por meio de Valdemar que Lula conseguiu um vice em 2002 e agora Bolsonaro, que é antipetista, recorre ao mesmo expediente”.
Malta
Para justificar a coligação, Bolsonaro tem insistido que seu objetivo é ter o senador Magno Malta (ES) como vice. O parlamentar tem forte influência no meio evangélico e poderia ampliar o potencial do presidenciável nesse segmento. Ainda há o fato de que com o PR Bolsonaro deixará de ser um “nanico” na TV e terá também mais estrutura em suas campanhas nos estados.
Mesmo com o desgaste que a associação a Valdemar e outras figuras do partido envolvidas em suspeitas de corrupção pode trazer, a avaliação é de que a coligação pode compensar. “Esse tipo de aliança, do ponto-de-vista de tempo de TV, é claramente benéfica a ele. E os eleitores do Bolsonaro não vão dar tanta atenção a essa inconsistência, até porque esses eleitores têm dado pouca atenção a outras inconsistências dele”, situa Couto.
“Esse namoro dele com o Magno Malta é antigo”, ironiza Ricardo Ismael. “Dentro de sua estratégia eleitoral, ele pode abrir diálogo com um grupo importante, dos evangélicos, além de obter o tempo de TV. Então há um cálculo entre ganhos e perdas que ele deve estar fazendo de que isso vá compensar o desgaste que virá.”