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Por Redação O Sul | 4 de julho de 2018
Um novo tratamento para o câncer de reto oferece ao paciente a possibilidade de não precisar fazer cirurgia de remoção do intestino depois da quimioterapia e radioterapia concomitantes. Segundo estudo publicado na revista médica britânica The Lancet, pesquisadores internacionais, incluindo dois brasileiros, descobriram que muitos pacientes com câncer de reto que não se submetiam a cirurgia radical alcançavam taxa de sobrevida em três anos de 93%, enquanto os que eram submetidos ao procedimento atingiam taxas de 90%. Apesar da pequena diferença, os resultados mostram que operação pode não ser necessária para um número significativo de pacientes.
O procedimento padrão para o tratamento da maioria dos casos de câncer de reto é a utilização simultânea da rádio e quimioterapia, seguida da cirurgia para a retirada de tumor residual no intestino ressecado, geralmente agendada antes mesmo dos resultados da regressão do câncer.
No entanto, em observação ao longo dos anos, a médica brasileira Angelita Habr-Gama e outros pesquisadores brasileiros perceberam, ainda na década de 1990, que em muitos casos a parte retirada do intestino não apresentava tumor residual e, portanto, havia a possibilidade de que alguns pacientes não precisassem ser operados, uma vez que o tratamento inicial poderia ser bem-sucedido.
A partir daí, a equipe decidiu esperar a avaliação da resposta ao tratamento antes de fazer a cirurgia, assim os médicos poderiam determinar quais pacientes mostrariam sinais da regressão clínica completa do tumor de reto, excluindo a necessidade de intervenção cirúrgica.
Novas descobertas
Nos primeiros anos de publicação dos resultados, a nova proposta de tratamento recebeu muitas críticas, no entanto, conforme os resultados se mostraram promissores, mais pesquisadores passaram a reconsiderar os novos achados, buscando observar a resposta dos pacientes que não faziam a cirurgia.
A aceitação permitiu a descoberta de um novo esquema de químio e radioterapia que poderia garantir um número ainda maior de pacientes que responderiam bem ao tratamento inicial. O aumento da dosagem das medicações contra o câncer proposta pelos pesquisadores visava a melhorar os índices de resposta completa ao tratamento, evitando, assim, a cirurgia.
Segundo Rodrigo Oliva Perez, coordenador do grupo de cirurgia colorretal oncológica do Centro de Oncologia da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, hospital que oferece o tratamento, antes do aumento das doses, 20% a 25% dos pacientes apresentavam resultados positivos. Agora esse número chega a quase 50%. Os resultados das observações foram publicados em 2013 na revista DCR (Diseases of the Colon & Rectum), da Sociedade Americana de Cirurgia Colorretal – ASCRS, na sigla em inglês.
Benefícios e riscos
A exclusão da cirurgia, que apresenta risco de complicações, é um dos principais benefícios dessa nova proposta de tratamento do câncer de reto. Não passar pela intervenção cirúrgica também evita a necessidade da colostomia definitiva – uso de bolsa artificial colocada na barriga pela qual o intestino passa a funcionar -, ou passar pela reconstrução intestinal, que pode comprometer a função evacuatória. Além disso, é possível poupar os pacientes de sequelas funcionais, como impotência sexual e disfunções urinárias.
Para os pacientes nos quais o tumor não desaparece por completo (cerca de 24% dos casos), a realização da cirurgia é obrigatória. “Dados dos estudos publicados mostram que o fato de o paciente ter sido operado depois, quando já há evidência de que o tumor voltou a crescer, não parece trazer prejuízos. O risco é o mesmo daqueles que são operados de imediato”, esclareceu Perez.
Como essa alternativa terapêutica exige conhecimento técnico e equipamentos adequados, nem todas as instituições brasileiras estão preparadas para oferecer o novo tratamento.
Mortalidade e sobrevida
Outro dado mostra que a taxa de sobrevida em três anos dos pacientes que não fazem a cirurgia é de 93%; já os que fazem a operação imediatamente é de 90%, confirmando que adiar a operação até a existência de informações concretas da volta do tumor não põe em risco a sobrevivência dos pacientes.
Entretanto, Perez explica que o novo tratamento ainda não é capaz de interferir na taxa de mortalidade da doença, embora consiga melhorar a qualidade de vida. Essa é a realidade de muitas outras alternativas terapêuticas que têm sido descobertas nos últimos anos para o tratamento dos diversos tipos de câncer.