Segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 5 de julho de 2018
A brasileira Embraer é muito importante para o futuro da Boeing, embora o presidente da Boeing, Dennis Muilenburg, tenha dito em fevereiro que um acordo com a fabricante brasileira de aviões Embraer não era essencial para o grupo americano. As análises de especialistas no mercado de aviação mostram que a afirmação não passava de uma tática de negociação. Na realidade, a empresa americana precisa da brasileira para permanecer relevante e expandir sua atuação para outros nichos desse mercado bilionário.
O acordo entre Boeing e Embraer para a criação de uma nova empresa, anunciado nesta quinta-feira (5), com uma participação de 80% da Boeing e de 20% da empresa brasileira, confirma o interesse da gigante americana na segunda geração dos E-Jets da Embraer. Mais ainda: segundo aponta o especialista Ken Herbert, da Canadoord Genuity, em entrevista ao serviço de notícias Bloomberg, a Embraer trará para a Boeing um know-how em engenharia que a americana poderá usar em seu novo projeto de jatos comerciais de médio porte.
Os E-Jets são aeronaves comerciais de até 145 lugares, fundamentais para a Boeing, que não tem produtos no mercado de aviação regional. Como agravante, sua principal concorrente, a Airbus, assumiu no ano passado participação majoritária da canadense Bombardier, fabricante do C Series, que faz parte dessa classe.
A necessidade de a gigante americana complementar seu catálogo com os produtos da Embraer era flagrante para brigar no mercado internacional. Ainda em dezembro, quando as negociações entre as duas empresas foram iniciadas, André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company e especialista em aviação, ressaltava que o grande interesse da Boeing era o segmento de aviação regional.
Para a Embraer, a vantagem era ganhar acesso a clientes e a capital mais barato para seus aviões de médio porte. Ele ponderava, entretanto, que o acordo colocaria em risco uma de suas principais vantagens: a agilidade. “A Embraer é vista como uma empresa capaz de trazer bons produtos de forma rápida ao mercado”, explicou. “Ao se tornar subsidiária de uma gigante, esse poder de decisão seria reduzido.”
Para chegar ao acordo anunciado nesta quinta, as empresas precisaram contornar algumas divergências. A “golden share” do governo brasileiro, tipo de ação que permite o poder de veto em certas de decisões da companhia foi a principal. Outro fator era tornar o Brasil o quarto centro de produção de peças para a americana (atualmente, a Boeing tem três polos de componentes fora dos EUA – na Austrália, no Reino Unido e no Canadá).
A área de defesa e segurança ficou de fora da joint venture anunciada, e será alvo de uma parceria diferente, ainda não especificada. De acordo com a Embraer, mesmo após o acordo, a União permanecerá com os direitos decorrentes da golden share.
Segundo comunicado divulgado pelas empresas, a nova companhia será comandada por uma equipe de executivos que ficará sediada no Brasil, mas respondendo diretamente ao presidente da Boeing, Dennis Muilenburg. O grupo americano terá o “controle operacional e de gestão” da nova empresa.