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Por Redação O Sul | 24 de julho de 2015
Os 582 habitantes da aldeia de Kalachi, no norte do Cazaquistão, chegaram a pensar que estavam amaldiçoados. Durante cinco anos olharam desconfiados para o céu, o ar, a água que bebiam. Suspeitaram até da vodca. Uma doença estranha começou a tomar conta dessas pessoas: sem motivo aparente, caíam no sono de forma fulminante. E podiam passar vários dias assim.
Mas o mistério agora foi desvendado: uma combinação de monóxido de carbono e de partículas de hidrocarburetos na atmosfera é a culpada. “Depois de fazer exames em todos os habitantes, recebemos a confirmação dos laboratórios (…), a causa principal é o monóxido de carbono”, explicou o vice-primeiro-ministro do país, Berdybeck Saparbayev, em entrevista coletiva. “Quando o monóxido de carbono [CO] e os níveis de hidrocarbonetos [CH] aumentam, o oxigênio baixa e produz esses desmaios”, afirmou.
Ao menos 120 moradores foram afetados. Os primeiros casos foram registrados em 2010 e se intensificaram a partir de 2013. O problema vinha em ondas: seis crianças dormiram em setembro de 2014 – no último inverno (no hemisfério norte) foram 60 pessoas. O sono chegava repentinamente, de forma irresistível. “Dirigia minha moto em 28 de agosto e de repente caí no sono”, afirmou um morador ao site EurasiaNet.org. Foi acordar apenas em 2 de setembro. Como também ocorreu com o restante dos moradores, os médicos não souberam dizer o que ocorria.
Minas de urânio.
Kalachi fica perto de um povoado fantasma que abrigou minas de urânio. As suspeitas sempre incidiram sobre essas minas. O quebra-cabeça estava no fato de as medições desses componentes serem normais, conforme explicou Sergey Lukashenko, um dos cientistas responsáveis pela investigação, ao jornal local The Astana Times.
“O interessante é que a doença do sono só se manifesta com a combinação de falta de oxigênio e excesso de CO e CH”, disse Lukashenko, que é diretor do Centro Nuclear do Cazaquistão. Em Kalachi, o fenômeno só ocorria mediante certas condições atmosféricas. “Cada um desses três componentes separadamente se encontrava dentro do nível normal e nenhum deles parecia causar suspeitas; portanto, durante muito tempo não foi possível verificar a causa verdadeira”, disse.
O cientista afirma que a origem dessa contaminação está em Krasnogorsk, um vilarejo fantasma perto de Kalachi e que abriga uma grande mina de urânio. A mina está fechada desde a queda da União Soviética, e Lukashenko deixou claro que o urânio ou qualquer radiação associada ao elemento não estão ligados às sonolências profundas.
“O urânio não tem nada a ver com isso. Usaram um monte de estruturas de madeira quando a mina estava em funcionamento. Depois a mina foi fechada e se encheu de água, e quando a madeira entra em contato com a água se produz monóxido de carbono”, afirmou. O monóxido de carbono começou a se infiltrar pouco a pouco até a superfície. As famílias da aldeia estão sendo realocadas pelo governo. (AG)