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Mundo Mulheres argentinas se unem contra o assédio sexual

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Mais de 90% da população feminina do país já foi assediada em espaços públicos. (Foto: Reprodução)

Na esteira da mobilização pela legalização do aborto na Argentina (o projeto foi vetado recentemente pelo Senado), o país latino-americano vive momentos inéditos em matéria de luta pelos direitos das mulheres. Com a força do movimento “Nenhuma Menos”, lançado em 2015 e que se espalhou por toda a América Latina, e o impacto do #MeToo norte-americano, muitas mulheres estão denunciando situações de assédio, envolvendo até celebridades locais.

Um dos casos que têm provocado maior comoção nacional é o do cantor Cristian Aldana, 47 anos, ex-líder da banda El Otro Yo, preso desde 2016. Ele foi considerado culpado em acusações de abuso sexual contra fãs adolescentes.

O julgamento de Aldana começou em maio e está entrando em sua etapa final. O cantor foi denunciado por sete mulheres que apresentaram provas contundentes sobre violações cometidas pelo acusado quando suas ex-fãs tinham entre 13 e 16 anos.

Aproximadamente cem testemunhas passaram pelos tribunais de Buenos Aires na primeira fase do julgamento, que poderia terminar com condenação de até 20 anos de prisão. Em um vídeo divulgado em redes sociais, as denunciantes revelam detalhes do abuso que dizem ter sido cometido pelo cantor em reiteradas oportunidades.

Os promotores do caso apontaram um denominador comum: “Cristian abusava de menores de idade, sem experiência sexual e que o contatavam através de seu blog”. Conforme os magistrados, “o cantor as obrigava a praticar sexo oral, introduzia utensílios de cozinha em seus orifícios íntimos e muitas vezes incorporou outros homens em encontros sexuais com menores”.

O caso de Aldana é o mais escandaloso a vir a público no país e o primeiro que poderia levar um artista popular a ser condenado por abusos sexuais reiterados. Na opinião de Raquel Vivanco, presidente do Observatório Nenhuma Menos e referência da luta feminista na Argentina, “as mulheres, em geral, estão cada vez menos temerosas e dispostas a contar situações traumáticas de violência sexual machista”.

“Fizemos uma pesquisa que mostrou que 93% das mulheres argentinas já sofreram algum tipo de situação de assédio no espaço público”, ressalta comenta Vivanco.

Lei

Em dezembro de 2016, a Assembleia de Buenos Aires aprovou a lei 5.742 sobre Assédio Sexual em Espaços Públicos, que prevê multas e obrigação de realizar trabalhos comunitários para pessoas que cometam esse tipo de contravenção penal. Há um projeto similar em debate no Congresso – já aprovado pela Câmara dos Deputados e que agora depende do Senado.

“O caso de Cristian Aldana é importante e ajuda as mulheres a se sentirem menos sozinhas”, avalia Vivanco. O Observatório mostrou, ainda, que 100% das argentinas confirmaram ter estratégias para se sentir mais seguras em espaços públicos, entre elas procurar estar acompanhada e, se necessário, mudar sua vestimenta.

“Diante desse verdadeiro flagelo social, o que ainda falta são campanhas de sensibilização por parte do Estado”, lamenta a diretora do órgão. A mobilização feminista argentina é cada vez mais enérgica. Jornalistas que cobrem esportes se uniram recentemente para denunciar assédio por parte de colegas e fotógrafos, conseguindo expressivo respaldo nas redes sociais. O movimento também aconteceu no Brasil, sob a hashtag #DeixaElaTrabalhar.

“Nosso objetivo é que essas pessoas não possam mais entrar nos estádios e em outros âmbitos onde estamos trabalhando”, conta a ativista Loana Mosquera, fundadora e líder do grupo, que conta com 35 integrantes.

Renúncia

Denúncias de assédio e abuso sexual obrigaram recentemente o ex-diretor do Greenpeace para Argentina, Chile e Colômbia Martin Prieto a renunciar ao cargo. E levaram atrizes como Cecilia Roth a revelar que há muitos anos foi abusada sexualmente por um jornalista espanhol, cuja identidade não revelou.

Cecilia disse sentir-se aliviada desde que desabafou num programa de rádio, no início do ano, e comemorou a ousadia de mulheres que, como ela, estão tomando coragem e fazendo denúncias: “Eu me atrevi a falar porque o feminismo adquiriu uma potência importante e uma força expressiva nunca antes vista”.

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https://www.osul.com.br/mulheres-argentinas-se-unem-contra-o-assedio-sexual/ Mulheres argentinas se unem contra o assédio sexual 2018-09-29
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