Domingo, 22 de dezembro de 2024
Por Redação O Sul | 30 de outubro de 2018
A China anunciou na segunda-feira que retomará, após 25 anos e de forma limitada, o comércio de produtos procedentes de tigres e de rinocerontes, o que provocou preocupação entre ativistas de defesa dos animais, que temem um aumento do tráfico destas espécies já em risco.
O comércio de produtos como o osso de tigre ou o chifre de rinoceronte será autorizado em circunstâncias “particulares”, anunciou o governo chinês. Entre estas circunstâncias estão pesquisa científica, venda de obras de arte e “pesquisa de tratamentos médicos”.
O osso de tigre e o chifre de rinoceronte moídos são ingredientes cobiçados na medicina tradicional chinesa.
Para se ter acesso a estes produtos será necessária uma autorização especial e apenas os médicos de hospitais reconhecidos pela Administração Nacional de Medicina Tradicional poderão utilizá-los, destaca a circular que autoriza o comércio.
Os volumes serão “estritamente controlados” e o comércio destes produtos estará proibido, exceto nos casos previstos.
Mercado clandestino
A medida revoga a proibição total adotada em 1993, mas o mercado clandestino substituiu o comércio legal e muitos produtos proibidos entram na China pelo Vietnã, segundo os movimentos ecologistas.
“A retomada do comércio legal poderá não apenas servir para encobrir o tráfico clandestino, mas também para estimular uma demanda que havia baixado quando a proibição entrou em vigor”, lamentou Margaret Kinnaird, responsável por biodiversidade do WWF (Fundo Mundial para a Natureza).
O tigre está classificado como espécie em risco de extinção pela UICN (União Internacional para a Conservação da Fauna). Em relação às distintas espécies de rinocerontes, a UICN os classifica em várias categorias: “vulneráveis”, “quase ameaçado” ou “em risco crítico de extinção”.
Um centímetro de chifre
Os rinocerontes-brancos estão entre os maiores animais das savanas e pradarias africanas, alcançando até 3,6 toneladas, mas são cobiçados por caçadores apenas pelos seus chifres. Para tentar conter a matança, alguns parques e reservas ambientais mantém programas de remoção dos cornos, mas nem esta medida drástica impede a ação de criminosos. Em julho foi divulgado que no Kragga Kamma Game Park, em Porto Elizabeth, na África do Sul, Bella, uma fêmea de 20 anos, foi morta apesar de ter apenas um centímetro de chifre.
“Uma tragédia caiu sobre a nossa família de rinocerontes no Kragga Kamma Game Park. Nossa linda matriarca foi brutalmente assassinada por caçadores e seu filhote, Tank, ficou órfão”, escreveu o parque, em comunicado no Facebook. “De forma inacreditável, ela e seus companheiros de rebanho tiveram seus chifres removidos uma semana antes. Está além da compreensão que ela tenha sido morta por apenas um centímetro de chifre”.
A África do Sul é lar de 80% dos rinocerontes do mundo, mas sofre para combater a caça ilegal. Os chifres de rinocerontes são extremamente valorizados no mercado asiático. A estimativa é que um quilo de chifre possa valer até US$ 75 mil, mais valioso que ouro ou cocaína.
Diferente dos marfins dos elefantes, os chifres de rinocerontes são de queratina, o mesmo material presente nas nossas unhas. Eles continuam crescendo ao longo da vida do animal, a uma taxa de 10 centímetros por ano, por isso muitos parques removem os chifres de tempos em tempos, numa tentativa de afastar os caçadores.
Mesmo assim, a medida parece não conter a gana dos criminosos. O número de rinocerontes mortos disparou nos últimos anos, subindo de apenas 13 em 2007 para mais de mil no ano passado.
O rinoceronte-branco do sul é a única espécie de rinoceronte não listada como em risco de extinção, com mais de 20 mil exemplares vivos. Mas seus primos do norte estão à beira da extinção, pois o último macho vivo morreu em março deste ano. Restam apenas duas fêmeas adultas e a última esperança para a espécie é a reprodução in vitro.