Quarta-feira, 05 de fevereiro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de novembro de 2018
O anúncio do presidente eleito Jair Bolsonaro de que pretende transferir de Tel Aviv para Jerusalém a embaixada brasileira em Israel – seguindo os passos do colega norte-americano Donald Trump – envolve uma controvérsia: a medida violaria resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) segundo as quais o destino da cidade sagrada para as três religiões monoteístas deve ser decidido em negociações entre judeus e palestinos.
A disputa pela cidade é milenar, mas a sua etapa mais recente começou com o fim do Império Otomano, na década de 1920, e o subsequente controle da região da Palestina pelo Reino Unido. Em 1917, na chamada Declaração Balfour, o governo britânico prometeu “apoiar o estabelecimento na Palestina de um lar nacional para o povo judeu”.
Em 1947, o Plano de Partilha da Palestina, aprovado pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, determinou a criação de dois Estados na região, um judeu e outro árabe. De acordo com esse plano, Jerusalém deveria ser uma cidade internacionalizada, sem pertencer a nenhum dos dois Estados.
Na época, os países árabes rejeitaram a Partilha, o que deu início ao primeiro de três conflitos árabe-israelenses, iniciado logo depois da Declaração de Independência de Israel, em 1948. Ao fim desse conflito, os territórios de Gaza e da Cisjordânia, que pelo Plano de Partilha seriam parte do Estado palestino árabe, ficaram sob controle do Egito e da Jordânia, respectivamente.
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel ocupou esses territórios e também o setor oriental (árabe) de Jerusalém, além das colinas de Golã, pertencentes à Síria. Reiteradas resoluções das Nações Unidas pedem a retirada israelense para as fronteiras anteriores ao conflito de 1967.
O setor oriental de Jerusalém é considerado território ocupado pela ONU e os esforços israelenses de obter o reconhecimento de toda a cidade como sua capital “única e indivisível “não obtiveram sucesso. Atualmente, com exceção das representações de Estados Unidos e Guatemala, todas as embaixadas estrangeiras em Israel ficam na costeira Tel Aviv.
Impasse
O destino de Jerusalém é um dos nós difíceis de desatar nas negociações entre israelenses e palestinos, que se arrastam desde os Acordos de Oslo (Noruega), há 25 anos, sem alcançar o objetivo de levar à criação do Estado palestino.
Nas conversas de Camp David, mediadas pelos norte-americanos em 2000, foram sugeridos critérios complexos de soberania e autoridade para alocar as autoridades religiosas e políticas em Jerusalém e permitir que ela fosse capital conjunta de israelenses e palestinos. O atual governo israelense, no entanto, rejeita partilhar a cidade com um Estado palestino.
Reação
Na última sexta-feira, a OLP (Organização para a Liberação da Palestina) criticou os planos de Jair Bolsonaro anunciados no dia anterior. “É uma medida provocativa e ilegal em virtude do direito internacional, além de desestabilizar a região”, afirmou Hanan Ashrawi, do Comitê Executivo da OLP. “É muito infeliz que o Brasil tenha se unido a essa aliança negativa contra a lei internacional.”
A decisão brasileira também foi condenada pelo movimento islamita Hamas, que governa a faixa de Gaza e que travou três guerras contra Israel desde 2008. “Nós consideramos que se trata de uma medida hostil em direção ao povo palestino e ao mundo árabe e muçulmano”, reagiu o porta-voz do Hamas, Sami Abu Zahri, em uma rede social.
Já o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, elogiou a pretensão do futuro líder brasileiro: “Parabenizo meu amigo presidente eleito, Jair Messias Bolsonaro, pela sua intenção de transferir a embaixada brasileira para Jerusalém, um passo histórico, correto e emocionante!”. Ele pretende ir à posse de Bolsonaro (em janeiro) e, conforme a imprensa de seu país, o político do PSL quer retribuir a visita em breve.