Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2018
O vírus T-linfotrópico humano (HTLV) ainda é pouco conhecido pela população. A enfermidade é causada por retrovírus que ataca o sistema imunológico e é transmitido pela relação sexual sem proteção, pelo contato com sangue contaminado por meio do compartilhamento de agulhas e seringas, pela transfusão de sangue e transplante de órgãos e da mãe infectada para o bebê, via amamentação.
Descoberto há mais de 30 anos, o HTLV é da mesma família do vírus da Aids, o HIV. De acordo com a infectologista Júlia Fonseca de Morais Caporali, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, a doença não tem cura. Uma a cada 20 pessoas infectadas desenvolve graves enfermidades como leucemia e doença neurodegenerativa.
O HTLV-1 circula mais na África, América Latina e em países como Japão, China e Austrália. Se a prevalência é mais alta no Japão, o Brasil é o campeão em números absolutos. Estima-se que haja entre 5 milhões e 10 milhões de infectados no mundo, e no Brasil seriam 2,5 milhões.
Cerca de 90% das pessoas portadoras do HTLV-1 não desenvolvem problemas de saúde relacionado ao vírus HTLV. “Mas os pacientes infectados que apresentam os sintomas têm a qualidade de vida muito debilitada, e não existe tratamento específico para a doença”, diz a infectologista. Ela ainda acrescenta que o HTLV foi negligenciado por muitos anos. “Enquanto as pesquisas relacionadas ao HIV avançam, as do nosso campo estão estagnadas e não temos nem mesmo remédio específico para a infecção”, explica.
Enquanto o HIV circula no sangue e se multiplica quando a imunidade baixa, o HTLV não cai na corrente sanguínea, mas passa de uma célula a outra. “O HIV é tratado quando está em grande quantidade no organismo, e o HTLV não tem tratamento. Os antirretrovirais do HIV não têm efeito para os pacientes e só são usados nos casos mais graves de leucemia”, explica a médica.
Para sensibilizar sobre as formas de prevenção e sobre a necessidade de melhorias na assistência aos portadores da doença em 2018, a data de 10 de novembro foi instituída como o Dia Mundial do HTLV.
Há mais de 20 anos, o HTLV é tema de estudos no âmbito da pós-graduação em infectologia e medicina tropical da Faculdade de Medicina da UFMG e, desde abril deste ano, o projeto de extensão Cuidar HTLV oferece assistência e educação em saúde a pacientes e familiares, no Centro de Tratamento e Referências em Doenças Infectocontagiosas Orestes Diniz.
“O diagnóstico é o primeiro passo para que a pessoa infectada pelo HTLV possa receber uma assistência médica adequada para controle dos sintomas que o vírus pode causar e garantir uma melhor qualidade de vida”, ressalta Júlia.