Sexta-feira, 25 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2018
Em uma longa e inédita entrevista à imprensa, na semana que passou o juiz federal Sérgio Moro demarcou diferenças com o presidente eleito Jair Bolsonaro, garantiu que não haverá perseguição a minorias no futuro governo e garantiu que, se depender dele, os movimentos sociais terão liberdade de manifestação. Mas o magistrado também defendeu o capitão reformado, dizendo que o o discurso agressivo dele é “coisa do passado”, endossou parte da agenda do militar, como a redução da maioridade penal para crimes graves, e disse que será “um subordinado” do chefe do Executivo.
“Ainda que possa não haver uma convergência absoluta, nós podemos conversar e cada um ceder nas suas posições. Ele [Bolsonaro], evidentemente, dá a última palavra, a posição final é dele, e eu vou tomar a decisão se continuo ou não continuo [no governo]”, disse. “As pessoas precisam ter tolerância sobre as opiniões alheias, saber que não são donas da razão. Sou uma pessoa disposta a ouvir e eventualmente mudar meus posicionamentos. Tenho bem presente que há uma relação de subordinação.
Ao longo de quase duas horas de entrevista em que não nomeou Bolsonaro uma vez sequer (referiu-se a ele sempre como “presidente eleito”), Moro disse considerá-lo uma pessoa “moderada” que não oferece riscos à democracia e ao estado de direito. Disse, ainda, que “não é consistente” classificar como terroristas movimentos sociais como MST e MTST e que irá apresentar ao Congresso Nacional uma série de medidas de combate à corrupção e ao crime organizado inspiradas nas dez medidas contra a corrupção e nas propostas elaboradas por instituições como a Transparência Internacional e a FGV (Fundação Getulio Vargas).
Moro também afirmou que irá convidar integrantes da Lava-Jato para auxiliá-lo, que boas operações policiais são as “que não fazem vítimas” e que, apesar de ser uma promessa de campanha de Bolsonaro, é preciso discutir de que forma será feita a flexibilização do porte e posse de armas para que eles não se tornem “fonte de armamento para organizações criminosas”.
Equipe
O procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima e o delegado classe especial da PF (Polícia Federal), Luciano Flores, podem integrar a equipe de Sérgio Moro no ministério da Justiça a partir de de janeiro, disseram ao Valor duas fontes próximas do juiz federal.
Flores é o atual superintendente-regional da PF no Mato Grosso do Sul. Foi ele o delegado que tomou o depoimento do ex-presidente Lula durante a condução coercitiva realizada pela Operação Alethea da Lava-Jato em março de 2016. Na ocasião Lula foi levado a depor em sala de Estado maior localizada no aeroporto de Congonhas, em São Paulo.
Carlos Fernando está prestes a se aposentar no MPF (Ministério Público Federal) e atuou desde o início na força-tarefa da Lava-Jato no MPF de Curitiba, da qual se desligou no mês passado. Luciano Flores é cotado para ocupar um dos altos cargos de direção na PF de Brasília, sendo, inclusive, um dos nomes cogitados para assumir a direção-geral da instituição – cargo atualmente ocupado por Rogério Galloro.
Já Carlos Fernando ocuparia posição no próprio ministério da Justiça, trabalhando diretamente com Moro. Ele é reconhecido pela experiência na negociação de acordos de delação premiado e de leniências na Operação Lava-Jato.
Em linha com Bolsonaro, o magistrado disse ser favorável à redução da maioridade penal para 16 anos no caso de crimes contra a vida e defendeu que a progressão penal seja “alterada” no caso de crimes graves ou mesmo proibida para integrantes de facções criminosas, além do endurecimento das penas contra o que chamou de “grande corrupção”.
Paulo Guedes
Moro abriu a entrevista, realizada no auditório do prédio da Justiça Federal em Curitiba, explicando que recebeu a primeira sondagem da equipe de Bolsonaro – feita pelo guru econômico do então presidenciável, Paulo Guedes – em 23 de outubro, a poucos dias do segundo turno, mas que só conheceu Bolsonaro pessoalmente em 1º de novembro, quando foi à casa dele, no Rio de Janeiro.
“Fui procurado por Paulo Guedes em 23 de outubro. Ele trazia uma sondagem acerca do meu interesse de compor o governo. Adiantei meu entendimento sobre esse tema, disse que só poderia tratar disso depois das eleições”, disse o magistrado. “[Bolsonaro] Me pareceu uma pessoa bastante ponderada. Ainda que não haja concordância absoluta, parece-me possível chegar a um meio-termo”, argumentou.