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Por Redação O Sul | 1 de janeiro de 2019
Em 2017, o Exército teve 13.863 munições roubadas ou furtadas, das quais 45,5% não foram recuperadas. São balas de calibres pesados: 7,62 mm (para fuzil), 9 mm (usadas em pistolas e submetralhadoras) e “.12”, comum em espingardas.
O volume de desvios em 2017, no entanto, é um ponto fora da curva nos últimos anos. No período entre 2014 e 2016, houve apenas 178 projéteis furtados ou roubados da Força Armada. Somente em 2018, foram 29 cartuchos. As informações constam em um ofício do próprio Exército endereçado ao gabinete do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) como resposta a um requerimento de informação feito pelo parlamentar.
Questionado pela imprensa sobre a razão do salto expressivo em 2017 no número de munições roubadas e furtadas do seu próprio acervo, o Exército disse que os órgãos de segurança pública é que devem ser procurados.
Para Alencar, os números são “alarmantes” e preocupam ainda mais por apontar o problema dos desvios dentro da organização responsável por fiscalizar os produtos controlados no país e que tem grande tradição de rigor nos procedimentos internos:
“Há um entendimento na população de que ali, nas Forças Armadas, desvios e irregularidades não são fáceis de ocorrer. No entanto, vemos números que considero alarmantes”, diz Chico. “E a situação é agravada pelo fato de que o novo projeto político trará mais confronto, com a própria proposta do Bolsonaro de que cada cidadão tenha uma arma, dentro desse contexto de falta de controle de munições.
O deputado critica ainda as respostas do Exército ao seu pedido de informações, considerando-as “insuficientes”. Isso porque a Força afirmou que abre procedimentos de apuração para todos os casos de munições desviadas. Mas, apesar da quantidade relevante, diz não ter registro de projéteis seus no contexto de crime nos últimos cinco anos.
Identificação
Todas as munições compradas por órgãos públicos são, por lei, marcadas com o número do lote. O procedimento serve para facilitar o rastreamento em caso de desvios ou se aparecerem envolvidas em delitos.
Embora o Exército não tenha conseguido identificar munições desviadas do próprio paiol em situações de crimes nos últimos cinco anos, não são raras notícias com esse teor. No dia 5 de dezembro, a Polícia Civil de Brasília deflagrou a operação Fogo-Amigo, contra uma organização criminosa que desviou quase 3 mil munições em 2018, do Exército e da Polícia Militar do Distrito Federal, para morros no Rio de Janeiro, segundo os investigadores.
Dentre os envolvidos que acabaram presos na operação, estava um bombeiro militar do Distrito Federal que trabalhava cedido para o GSI (Gabinete de Segurança Institucional), na Presidência da República.
Outro caso de falta de controle que chama atenção foi o desvio de milhares de munições da 2ª Companhia de Suprimento do Exército, em Maranguape, no Ceará. O furto foi identificado no fim do ano passado e militares acabaram presos na época.
“A informação do Exército sobre ausência de registro de munições do próprio acervo em crimes não bate com a realidade, mostra que o controle é falho e que os números de desvios informados provavelmente estão subnotificados”, afirma Bruno Langeani, gerente do Instituto Sou da Paz, que faz estudos sobre o tema.