Sexta-feira, 10 de janeiro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2019
A PF (Polícia Federal) rastreou pagamentos de mais de R$ 23 milhões da JBS/Friboi para duas empresas do ex-ministro Gilberto Kassab (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações). Os valores constam do relatório do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) no âmbito do inquérito que investiga repasses de R$ 58 milhões pelos irmãos Wesley e Joesley Batista à Kassab e ao seu partido, o PSD. No documento, a PF diz ver indícios de lavagem de dinheiro.
Por meio de nota, Kassab justificou que as empresas prestaram “serviços a preços de mercado e que estão documentados de forma robusta e consistente, em uma relação comercial iniciada em 2006 ainda com empresa que foi posteriormente adquirida pela JBS”.
Disse, ainda, que tais informações já foram apresentadas à investigação. “Reitero a minha confiança na Justiça brasileira, no Ministério Público e na imprensa, entendendo que quem está na vida pública deve estar sujeito à especial atenção do Judiciário para quaisquer esclarecimentos que se façam necessários. Todos os meus atos seguiram a legislação e foram pautados pelo interesse público”, acrescentou.
Afastamento
Nomeado secretário-chefe da Casa Civil de São Paulo pelo governador João Doria (PSDB), Kassab se licenciou oficialmente do cargo nessa sexta-feira, a fim de se dedicar à defesa das acusações. Em acordo de delação premiada, o empresário Wesley Batista afirmou que Kassab recebeu uma mesada de R$ 350 mil da empresa entre 2010 e 2016, totalizando R$ 30 milhões, “em troca de eventual influência política futura em demandas de interesse da JBS”. Já o executivo Ricardo Saud disse que a empresa repassou outros R$ 28 milhões ao PSD pela compra de apoio político acertada com o PT.
Segundo Wesley, os pagamentos a Kassab foram feitos de forma dissimulada através de notas fiscais falsas emitidas pela empresa Yape Assessoria e Consultoria Ltda., da qual Kassab foi sócio até 2014 e foi administrada por seus irmãos até janeiro de 2017, quando foi dissolvida. A partir da delação da JBS, o Coaf identificou uma série de transações financeiras suspeitas envolvendo a Yape Assessoria e a Yape Transportes, Comércio e Participações Ltda., outra empresa da família Kassab.
De acordo com o relatório da PF produzido a partir dos dados do Coaf, a Yape Assessoria recebeu R$ 16,9 milhões da JBS entre janeiro de 2013 e abril de 2017. “Verifica-se que a empresa JBS foi a principal fonte dos recursos movimentados pela Yape Consultoria no período pesquisado”, aponta o relatório. Ao todo, a empresa de Kassab movimentou R$ 37,9 milhões no mesmo período. “Observa-se também que que a destinação desses valores foi pulverizada entre seus sócios”, completa o documento.
Somente Kassab, segundo a PF, retirou R$ 1,26 milhão da Yape Assessoria e Consultoria nesses quatros anos. Já a Yape Transportes, que funciona no mesmo endereço, na Vila Clementino, zona sul de São Paulo, recebeu ao menos R$ 6,15 milhões da JBS entre 2013 e 2016. O relatório destaca que entre os dias 7 e 8 de janeiro de 2013 houve um pagamento de R$ 300 mil da JBS à Yape Transportes e, na sequência, a empresa da família Kassab emitiu um cheque de R$ 230 mil ao ex-ministro.
A PF aponta que Kassab já havia recebido, entre julho e dezembro de 2012, ou seja, quando ainda era prefeito de São Paulo, R$ 920 mil das duas empresas da família. “No prosseguimento da presente análise, observou-se diversas ocorrências relativas a movimentações em contas titularizadas pelos sócios da empresa Yape Consultoria e Yape Transportes, quase todos parentes de Gilberto Kassab, com situações comuns e dignas de registro, pois indicativas, pelo menos em tese, de possível indício de lavagem de dinheiro”.