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Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2019
A ativista social Sabrina Bittencourt, de 38 anos, que recebeu as primeiras denúncias de assédio sexual contra o médium João de Deus, se suicidou na noite de sábado (2). A morte foi confirmada por uma nota divulgada pelo grupo Vítimas Unidas, ONG de apoio a vítimas de abuso do qual Sabrina fazia parte.
Segundo a nota, assinada pela presidente da organização, Maria do Carmo Santos, e pela fundadora, Vana Lopes, Sabrina morreu por volta das 21h, em Barcelona, onde vivia. “A luta de Sabrina jamais será esquecida e continuaremos, com a mesma garra, defendendo as minorias, principalmente as mulheres que são vítimas diárias do machismo”, afirma a nota.
Às 20h05min de sábado, Sabrina publicou em seu perfil do Facebook um texto dizendo que iria se unir à vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco, assassinada em 14 de março de 2018.
Sabrina deixa três filhos. No Facebook, seu filho mais velho, Gabriel Baum, escreveu na manhã deste domingo (3): “Ela só se transformou em outra matéria. Nós seguiremos por ela. Foi isso que minha mãe me ensinou e ninguém vai poder tirar de mim. Não permitam que manchem o nome dela”.
“Minha mãe me passou o ano todo me preparando, mas nunca estamos preparados mesmo”, disse. Em relato publicado na revista Marie Claire em dezembro de 2018, a ativista afirmou que tratava um câncer no sistema linfático.
Sabrina fazia parte da força-tarefa Somos Muitas, grupo que deu publicidade, em dezembro do ano passado, a uma série de casos de abuso sexual que teriam sido praticados pelo médium contra mulheres que buscavam atendimento espiritual em um centro de oração em Abadiânia, no interior de Goiás.
Com as informações, o Ministério Público goiano instaurou sua própria força-tarefa, denunciou João de Deus e conseguiu que a Justiça decretasse a prisão dele. O médium foi preso em 16 de dezembro. Em janeiro, a ativista apresentou uma denúncia ao Ministério Público em São Paulo de que João de Deus estaria envolvido em um esquema de tráfico internacional de bebês e de escravização de mulheres.
No dia 24 de janeiro, o Ministério Público de Goiás informou que apresentou outras duas denúncias contra o médium: uma por estupro de vulnerável e outra por porte ilegal de armas de fogo – esta última também feita contra a mulher dele, Ana Keyla Teixeira.
De família mórmon, Sabrina foi abusada desde os 4 anos por integrantes da igreja frequentada pelos pais e avós. Aos 16, ficou grávida de um dos estupradores e abortou. Bittencourt dedicou a vida a militar por vítimas de abuso.
Ela é uma das criadoras do “movimento” Coame, sigla para Combate ao Abuso no Meio Espiritual, plataforma que concentra denúncias de violações sexuais cometidas por padres, pastores, gurus e congêneres. Sabrina ajudou, principalmente, as vítimas de abuso sexual de João de Deus, investigando as acusações junto à imprensa.