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Por Redação O Sul | 3 de fevereiro de 2019
A primeira-ministra Theresa May acabava de sobreviver a uma moção de desconfiança no Parlamento em Londres , e Paul Large só pensava em suas raízes. Não as deixadas para trás, em Aldershot, cidade a 50 quilômetros ao sul da capital britânica, mas as que estão fincadas no solo da sua quinta em Louriçal do Campo, a 250 quilômetros de Lisboa . Na manhã seguinte, pensava em duas prioridades: cuidar da terra e dar início ao pedido de nacionalidade portuguesa para os seus quatro filhos.
Large quer manter intacta para os herdeiros a condição de permanência na União Europeia (UE). Em tempos de Brexit, marcado para 29 de março, com ou sem acordo, parte dos britânicos favoráveis a permanecer no bloco seguiu o mesmo caminho deste professor e analista ambiental de 50 anos. Encontrou em Portugal um país acolhedor, barato, com alta qualidade de vida e oportunidades de negócios e trabalho.
“Liberdade é importante, e eu quero que meus filhos se movimentem sem a necessidade de vistos. Dois deles nasceram em Portugal, mas, mesmo assim, eu preciso me candidatar oficialmente para obter a nacionalidade”, explicou Later, que vive em Portugal há dez anos e só agora, com o Brexit, quer a cidadania portuguesa.
Apenas 15 ingleses solicitaram nacionalidade portuguesa em 2007. No ano do referendo do Brexit (2016), foram 144. Um ano depois, 333. Em 2018, o total saltou para 495, segundo os Registros Centrais de Lisboa. O número do último ano é mais que o triplo em relação a 2016.
Os pedidos de residência também subiram. Em 2016, houve um crescimento de 12,5% da população britânica no país, que passou a ser a sexta maior de Portugal, com 19.384 pessoas. A tendência de aumento na imigração vem desde 2013 e foi confirmada em 2017, ano da última estatística do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal (SEF). O número de britânicos subiu 15,7%, passando a 22.431 pessoas, ou 5,3% do total dos imigrantes em Portugal. O Brasil ainda é a maior colônia no país, com mais de 85 mil pessoas.
Para explicar este aumento, Large, que é ex-diretor da Escola Internacional de Penamacor – um distrito que tem recebido centenas de ingleses em busca de uma nova vida e propriedades rurais imensas, abandonadas e baratas – insiste no avanço dos conservadores no Reino Unido.
“Bruxelas protege o acordo comercial, os direitos humanos e trabalhistas e as leis ambientais. Com o Brexit, os conservadores farão do Reino Unido um paraíso fiscal e desmantelarão o Serviço Nacional de Saúde”, avalia Large.
Em sua decisão, ele levou em conta a possibilidade de ter uma rotina menos estressante e mais voltada para a natureza e as relações pessoais. Além disso, como professor, já não via vantagens para os filhos nas escolas inglesas:
“Não estávamos satisfeitos com o sistema educacional inglês. As escolas são imensas e quase não há relacionamentos (entre os alunos), além de não serem seguras. A educação em Portugal não é perfeita, mas a escola é uma extensão da família. Em Louriçal, além de amigos do mundo todo, tenho uma pequena quinta, que proporciona uma ótima vida para as crianças.”
‘Brexit é um retrocesso’, diz inglês
O sistema educacional da Inglaterra também tirou Mark Hooley do país. Há sete anos, ele era um jovem professor de Geografia tentando sobreviver com um salário baixo em um trabalho frustrante. Achou emprego em Portugal e trocou Manchester pelo Porto. Já havia pensado em pedir nacionalidade, mas deu entrada no processo após o processo do Brexit.
“Eu quero segurança e quero fazer parte de um país progressista. E, para mim, o Reino Unido, agora, não é um país progressista. O Brexit é um retrocesso para a nação, porque torna os britânicos menos abertos em termos sociais e econômicos”, definiu Hooley.
A situação, para ele, chegou ao limite: “Estou cansado de políticos lidando com o Brexit de maneira pouco profissional. Ficarei aliviado quando tudo isso sair do noticiário, porque nós não sabemos o que vai acontecer. Mas o que vejo são pessoas assustadas”.
O primeiro-ministro António Costa garantiu segurança e tranquilidade aos 400 mil portugueses residentes no Reino Unido e também aos quase 23 mil ingleses em Portugal. Estes, segundo o premier, terão mantidos os seus direitos, e os turistas não precisarão de vistos.