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Colunistas Bange-bangue à vista

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No meio do bangue-bangue, as balas perdidas terão como vítimas preferenciais crianças, mulheres e idosos, bem como a todos os que tiverem o azar de estar no lugar errado e na hora errada. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Semana passada, nas quebradas do Morro Santa Tereza, no Rio de Janeiro, um confronto entre policiais e traficantes, deixou estendidos no chão 14 corpos. Os mortos e mais dois feridos a bala eram todos ligados ao tráfico, segundo as autoridades. Não foi divulgado o número de policiais envolvidos na operação, mas é certo que todos escaparam ilesos, sem nenhum ferimento.

A turma para quem “policial que não mata não é policial” e “bandido bom é bandido morto” vibrou nas redes sociais. A operação foi saudada como o início de uma nova era, em que os bandidos serão eliminados ou presos, e em que o cidadão comum poderá afinal respirar aliviado, andar seguro nas (hoje) conturbadas cidades brasileiras.

Seria bom se fosse verdade. A operação de Santa Tereza tem jeito, formato e cheiro de chacina, de um crime tão hediondo quanto um latrocínio vulgar. O “rigoroso inquérito”, que já deve estar aberto, concluirá – podem ter certeza – que o evento trágico resultou de um confronto entre o crime e a lei, e que os agentes da lei apenas cuidaram de responder ao fogo cerrado do inimigo.

São as razões de sempre, em tais episódios. Mas agora tais razões estão mais fortes, robustecidas por uma nova abordagem: nada de afagar a cabeça dos delinquentes, dizendo-os vítimas da desigualdade social, aos quais não restou outro caminho senão o do crime. Nada de direitos humanos, só de humanos direitos.

Antes que me acusem de esquerdopata e coisas assim, desde logo aviso: não me incluam no campo dos que tratam os confrontos entre os policiais e o crime, como se aqueles fossem os verdadeiros marginais. Olho o policial como alguém que me protege e aos meus: respeito e admiro o seu ofício e missão.

De outro lado, há, sim, um efeito danoso da pobreza, da miséria e da ignorância, que gera a bandidagem e o crime. Mas a razão principal de uma escolha torta é individual. Se assim não fosse, a maioria dos jovens, pobres e negros seria de meliantes.

Porém quando o indivíduo é investido de autoridade pelo Estado, em todas as instâncias e hierarquias, e em toda a circunstância, tem o dever de se conduzir com moderação e prudência: é um servidor da sociedade. Mais ainda a autoridade policial. A minha apreciação sobre os agentes policiais, não vai ao ponto de justificar a exacerbação, a truculência, a ação desmedida, a execução sumária.

Com o estímulo desabrido das novas políticas do governo Bolsonaro, do ministro Moro, de Wilson Witzel, o novo governador do Rio, esses desvios e abusos tendem obviamente a crescer em número, agressividade e sangue derramado. No meio do bangue-bangue, as balas perdidas terão como vítimas preferenciais crianças, mulheres e idosos, bem como a todos os que tiverem o azar de estar no lugar errado e na hora errada.

Não tem como terminar bem. Está se estruturando um Estado vingador, justiceiro, que admite o extermínio sumário de seus concidadãos, ainda que filhos desgarrados e infratores da lei. Não será assim que se eliminará a violência que nos acomete de maneira tão pungente.

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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