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Por Redação O Sul | 8 de março de 2019
Nesta segunda-feira, os quatro réus do processo sobre o assassinato do garoto Bernardo, 11 anos, sentarão no banco dos réus em um tribunal de Três Passos, na Região Norte do Estado. Os acusados são o médico Leandro Boldrini (pai da vítima), sua mulher Graciele Boldrini, a amiga dela Edelvânia Wirganovicz e seu irmão Evandro Wirganovicz – todos já presos.
A sala do Júri do Fórum da cidade de aproximadamente 23 mil habitantes passou recentemente por adequações para receber um público maior. Ao menos 20 cadeiras foram instaladas, ampliando a capacidade da plateia para 70 pessoas. Também houve acréscimo de espaço para os advogados de defesa dos quatro réus.
Em avenidas e pontos de acesso, anúncios pagos em outdoors pedem Justiça. Hotéis estão com reservas esgotadas até mesmo em outros municípios da região, inclusive o que abrigará os jurados, que deve permanecer isolado ao longo do julgamento, que poderá durar até cinco dias. Fontes locais ressaltam que também há muitas reservas para jornalistas e estudantes de Direito.
Ao todo, 29 testemunhas têm o seu depoimento aguardado pela Justiça: cinco convocadas pelo Ministério Público, 12 pela defesa de Leandro Boldrini, oito por Evandro e quatro por Graciele. Edelvânia não convocou nenhuma.
O crime
Leandro Boldrini, pai de Bernardo, é considerado pela Polícia e pelo Ministério Público como o mentor. Ele teria recebido ajuda de Graciele Ugulini, sua mulher, e Edelvânia Wirganovicz, que confessou ter recebido dinheiro da amiga para ajudá-la a preparar a cova. Evandro irmão de Edelvânia, também virou réu.
O corpo foi encontrado em uma cova no interior do município de Frederico Westphalen, dez dias após o registro do desaparecimento. De acordo com as investigações, no dia 4 de abril de 2014 a criança morreu após ser obrigada a ingerir uma alta dose de sedativos. Se fosse vivo, Bernardo teria hoje 16 anos.
Uma série de fatores causaram a demora para o início do julgamento. O principal deles foi a reabertura do processo que investigou a morte de Odilaine Uglione, mãe de Bernardo, em fevereiro de 2010, Segundo a polícia local, a mulher de 30 anos cometeu suicídio com um tiro na cabeça no consultório onde o ex-marido trabalhava na época.
A hipótese de que a mulher também teria sido assassinada pelo próprio marido foi apurada na época e também após a morte de Bernardo, mas considerada improcedente.
Omissão
Órfão de mãe e vivendo com o pai e a madrasta, Bernardo se dizia carente de atenção. Ele chegou a procurar a Justiça para reclamar do tratamento que recebia em casa e pedindo para morar com outra família.
No início de 2014 (ano de sua morte), um juiz da Vara da Infância e Juventude de Três Passos autorizou que o garoto continuasse morando com o pai, após o Ministério Público instaurar uma investigação contra o homem por negligência afetiva e abandono familiar.
O pai do menino chegou a ser investigado, mas jamais foram encontrados indícios de agressão física. A permanência de Bernardo na casa em Três Passos resultou do pedido de “uma segunda chance” pelo médico, com a promessa de que buscaria reatar os laços familiares com o filho. A avó materna, que morava em Santa Maria, chegou a se oferecer para assumir a guarda, em vão.
Marcello Campos