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Por Redação O Sul | 5 de abril de 2019
A Polícia Judiciária de Portugal concluiu que não há indícios suficientes para acusar de homicídio os agentes da Polícia de Segurança Pública que dispararam contra o carro da brasileira Ivanice Carvalho da Costa em novembro de 2017.
A polícia confundiu o veículo em que ela e o marido estavam, um Renault Megane preto, com um outro que havia acabado de participar de um assalto a um caixa-eletrônico.
Os agentes dispararam várias vezes contra o veículo. Ivanice, 36 anos à época, foi atingida no pescoço e morreu antes de chegar ao hospital. Ela estava a caminho do trabalho, no aeroporto de Lisboa.
O relatório final do inquérito, aberto logo após o incidente, foi encaminhado ao Ministério Público de Portugal com pedido de arquivamento, segundo o jornal Diário de Notícias.
A conclusão da investigação da Polícia Judiciária confirmou o resultado do inquérito da Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), de outubro de 2018, que também inocentou os agentes envolvidos.
Segundo a IGAI, os policiais tinham atuado em “legítima defesa” e num cenário de “iminente perigo”.
O relatório indicava que os agentes envolvidos “pensaram que o veículo em causa seria efetivamente” o automóvel no qual estava o grupo responsável pelo assalto e que o condutor estaria “tentando fugir novamente” quando ignorou as ordens para parar e deu marcha-ré em direção aos policiais.
O relatório de balística não conseguiu identificar qual dos agentes policiais fez o disparo mortal. O Renault Megane preto em que estavam Ivanice e seu marido, também brasileiro, ficou cravejado de balas.
Os agentes dispararam mais de 40 tiros, tendo perfurado a lataria do carro com ao menos 20 deles. O condutor acabou detido pela PSP por condução sem habilitação legal, por desobediência a sinalização de trânsito e por condução perigosa.
Família
Ivanice esteve em Amaporã (PR) pela última vez em 2007. Ainda assim, o contato com a família era quase diário, via redes sociais. “A gente não imaginava que isso pudesse ocorrer por lá”, resumiu Iasmin Carvalho da Costa, de 22 anos, uma das irmãs da brasileira assassinada. “Ela tinha adotado Portugal como terra dela. Não pensava mais em voltar.”
“Eu sempre insistia para ela voltar, dizia que ela conseguiria um emprego por aqui. Mas ela não queria, estava feliz, tinha um companheiro com quem vivia, gostava de lá”, disse a mãe. Em Portugal, Ivanice trabalhava em um restaurante no aeroporto de Lisboa.
Na época, o caso ganhou espaço na imprensa de Portugal, que tem um número muito baixo de mortes envolvendo forças policiais. Entre 2013 e 2015, não houve nenhuma vítima fatal. A brasileira foi a primeira morte provocada por policiais em Portugal em 2017. O caso fez lembrar um outro brasileiro assassinado por engano pela polícia na Europa.
Em julho de 2005, o mineiro Jean Charles de Menezes, 27 anos, morreu após ser atingido pela unidade armada da Scotland Yard no metrô de Londres (Inglaterra). Ele foi confundido com um terrorista pela polícia inglesa.