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Por Redação O Sul | 10 de maio de 2019
Gravações telefônicas entregues à PF (Polícia Federal) por um doleiro colaborador da Operação Lava-Jato registram o diretor administrativo do Corinthians, André Luiz de Oliveira, conversando com um operador sobre o que seriam duas entregas de dinheiro da Odebrecht em seu apartamento no Tatuapé, em São Paulo (SP), em 2014.
André Negão, como é conhecido, foi apontado por delatores da empreiteira como intermediário dos repasses de R$ 3 milhões de caixa 2 destinados ao ex-deputado federal pelo PT e presidente corintiano Andrés Sanchez, identificado na planilha da Odebrecht pelo codinome “Timão”. Andrés foi eleito deputado em outubro daquele ano.
Ambos são investigados em um inquérito que tramita sob segredo de Justiça no TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). Arquivos da empreiteira apreendidos pela PF mostram que os supostos pagamentos a Andrés foram providenciados por Antonio Roberto Gavioli, que foi diretor de contrato na Odebrecht Infraestrutura, vinculada à obra da Arena Corinthians.
O documento atrelava os pagamentos ilícitos à construção do estádio corintiano, erguido pela Odebrecht ao custo de R$ 1,1 bilhão e inaugurado em maio de 2014 para receber o jogo de abertura da Copa no Brasil.
Os dois áudios, obtidos com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo, foram gravados em agosto e outubro de 2014 pela equipe do doleiro Álvaro José Novis, responsável por coordenar os pagamentos ilícitos da Odebrecht em São Paulo e no Rio, de acordo com as investigações da PF.
Novis fechou acordo de delação premiada com a Lava-Jato após ser preso em 2017 e entregou aos investigadores todas as gravações feitas automaticamente por sua corretora de valores e câmbio desde 2010. Os arquivos, que ainda estão sob sigilo, são considerados pelos investigadores as provas mais fortes que complementam as delações da Odebrecht.
Nos dois áudios, André Negão, que é homem de confiança e ex-assessor parlamentar de Andrés, conversa com Márcio Amaral, funcionário do doleiro encarregado de agendar as entregas de dinheiro a partir do cronograma definido pelo Departamento de Operações Estruturadas da empreiteira, o setor que cuidava das propinas.
Filha
Na primeira chamada, às 10h38min de 18 de agosto de 2014, Amaral liga no celular de André Negão e diz: “Deixa eu te explicar, tem um restante de uma encomenda que eu te entreguei na sexta-feira (15 de agosto) que nós marcamos hoje de 10h às 12h lá no mesmo local, meu pessoal tá lá”.
O braço direito de Andrés diz que não havia sido avisado sobre a entrega e que estava longe do ponto de encontro. O dirigente corintiano pede então para que a “encomenda” seja entregue à filha Gabriela. “Então você vai fazer o seguinte: a minha filha tá lá, eu vou pedir para entregar na mão dela, vou pedir pra ela descer lá”, diz André Negão. “Tá. Eu vou pedir para o meu pessoal então entregar à Gabriela”, finaliza o funcionário do doleiro.
Registros de conversas via Skype entre funcionários da Transnacional, a transportadora de valores que executava as entregas nos imóveis, apontam uma entrega de R$ 1 milhão para “André Oliveira” em um apartamento, em 15 de agosto de 2014. O endereço indicado é a residência oficial de André Negão.
A data, o valor de R$ 1 milhão e a senha “planador” que aparecem na mensagem do Skype são os mesmos contidos na planilha da Odebrecht vinculados ao codinome “Timão”, atribuído a Andrés e atrelado à construção da Arena Corinthians.
As mensagens mostram ainda que R$ 250 mil do pagamento em 15 de agosto ficaram “pendentes” e foram entregues, segundo as conversas registradas pela transportadora, três dias depois, na mesma data da ligação do funcionário do doleiro para André Negão.
À época da publicação, o advogado João dos Santos Gomes Filho, que defende Andrés Sanchez, afirmou que os agentes da transportadora “não reconheceram” André Negão por foto como sendo o receptor da suposta entrega de dinheiro. “É lamentável que uma prova de conhecimento negativa seja obnubilada por uma tentativa de fixar um endereço”, disse na ocasião.
Em um segundo áudio, gravado em 22 de outubro de 2014, após a eleição de Andrés como deputado federal, Amaral liga para André Negão às 14h28min dizendo que havia tido um atraso na entrega. “Meu amigo, houve um atraso hoje, eu sei que marcaram aí com você hoje de 10h às 12h, né. Já chegaram?”, pergunta. “Tão chegando”, confirma André Negão.
Uma planilha feita pelo ex-gerente da Transnacional, Edgard Venâncio, e obtida pelo Estado, mostra uma entrega de R$ 500 mil feita no dia 22 de outubro de 2014 no apartamento de André Negão com a senha “alface”. No arquivo aparece o número de telefone usado até hoje pelo dirigente corintiano.
O inquérito que investiga Andrés Sanchez e André Negão foi encaminhado para o TRF-3 pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A expectativa é que a investigação seja enviada para a Justiça Eleitoral de São Paulo, a exemplo de outros casos em que os pagamentos da Odebrecht seriam referentes a caixa 2 de campanha política.