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Por Redação O Sul | 21 de maio de 2019
A ofensiva de sedução lançada pela Boeing para convencer companhias aéreas, tripulações e passageiros a apoiarem seu 737 Max já esbarra em certa resistência. O esforço emperra em um problema criado pela própria companhia: depois de reagir de maneira desastrada a dois acidentes mortais com o avião, a Boeing enfrenta problemas de credibilidade.
Recentemente, ela enviou John Moloney, um de seus principais lobistas, à sede do influente sindicato dos comissários de bordo. Moloney chegou determinado a obter o apoio da categoria, mas encontrou um público cético. “Por sua linguagem corporal, vocês parecem indiferentes”, observou durante o diálogo com a Associação dos Comissários de Bordo. “Se esta explicação não puser fim a suas preocupações, voltarei trazendo um piloto”.
Sara Nelson, presidente do sindicato, disse a Moloney que, embora quisesse o sucesso da Boeing, não estava pronta para dizer aos comissários de bordo e aos passageiros que voassem no avião. “Não sei se, neste momento, sentada aqui, posso afirmar ao senhor que confiamos plenamente que tudo tenha sido acertado na Boeing”, ela disse a Moloney.
O diretor-executivo da companhia, Dennis A. Muilenburg, também teve trabalho para convencer as companhias aéreas americanas que voam com o Max – Southwest Airlines, American Airlines e United Airlines – e se encontrou com empresas aéreas estrangeiras para discutir um novo treinamento e planos para uma campanha de publicidade.
A Boeing, que tem profundos vínculos com Washington e é uma das maiores exportadoras americanas, está na defensiva. A companhia enfrenta neste momento investigações federais a fim de averiguar as falhas dos projetos que contribuíram para os acidentes, assim como ações movidas pelos familiares das vítimas. A maior preocupação dos executivos e dos comissários de bordo da companhia é com os danos que tudo isso provocou à reputação outrora impecável da Boeing.
“Todos na companhia reconhecem que teremos de tomar providências para agir e recuperar a confiança na marca Boeing durante anos”, disse David Calhoun, principal diretor independente do conselho de direção da Boeing. “Há uma única coisa a fazer: colocar um avião seguro de volta no céu”, declarou.
Desde que todos estes aviões foram obrigados a permanecer no solo, em março, a Boeing trabalha furiosamente para que o Max volte a voar. No mês passado, a corporação recebeu a visita de centenas de diretores e pilotos de companhias aéreas na fábrica do Max 737, em Renton, Washington, e está em constante contato com as autoridades reguladoras. Em meados de maio, a companhia anunciou que desenvolveu um software para a correção de problemas, e espera que seja aprovado pelos reguladores americanos.
“Em última análise, a decisão de voltar a colocar o Max no serviço comercial está nas mãos dos reguladores globais”, afirmou Gordon Johndroe, porta-voz da companhia.
Simultaneamente, a Boeing prepara uma estratégia de relações públicas para aproximar os passageiros. A companhia e outras empresas aéreas concordam que o principal executivo, Muilemburg, talvez não seja o mensageiro mais eficiente, como representante de mais alto escalão de uma empresa sob intensas investigações. Por isso, o plano prevê que os pilotos desempenhem um papel de grande importância na campanha.
“Nós achamos que a contribuição dos pilotos de nossas linhas será fundamental em tudo isso; a voz deles é muito importante”, afirmou Muilenburg falando por ocasião da divulgação dos lucros da Boeing no mês passado.
Os executivos das companhias aéreas dos Estados Unidos estão ansiosos para que o avião volte a voar, mas muitos comentam discretamente que estão frustrados com a Boeing. Eles acreditam que a empresa não soube administrar a resposta dada ao público sobre os acidentes, e estão irritados com a possibilidade de a blitz das relações públicas recair sobre os seus pilotos.
Os pilotos também, relutam em desempenhar o papel de embaixadores da marca em benefício da Boeing, que mal se dirigia a eles antes da queda do avião da Lion Air na Indonésia, em outubro, o primeiro dos dois acidentes fatais.
“Nossa resposta é, ‘tudo bem, tudo lindo, mas nós não vamos entrar nessa com vocês'”, disse Mike Trevino, porta-voz da Associação dos Pilotos da Southwest Airlines.
Em parte, a relutância decorre das mensagens pouco claras da Boeing. Embora tenha afirmado, “Nós somos os donos”, Muilenburg não reconheceu que algo estava errado no projeto do jato.
Passageiros exigem que a Boeing assuma maior responsabilidade. “Se quiserem realmente solucionar o problema, devem admitir que a culpa”, afirmou Paul Hudson, presidente da Flyers Rights, organização sem fins lucrativos que defende os direitos dos passageiros. “Vocês não podem dizer, ‘Nós somos os donos, mas não fizemos nada errado e a culpa é de alguns outros'”.