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Por Redação O Sul | 30 de maio de 2019
Um estudo liderado por um cardiologista brasileiro, que atua como pesquisador e professor no Centro Médico da Universidade Duke, nos Estados Unidos, promete mudar os paradigmas do tratamento de pacientes que têm fibrilação atrial (o tipo de arritmia mais comum) e já sofreram de um enfarte. O resultado da pesquisa apontou um aumento de 89% das chances de hemorragia em pacientes que apresentam estes dois quadros simultaneamente e usam aspirina como um dos medicamentos do tratamento.
“Pacientes que têm fibrilação atrial correm mais risco de formação de coágulos na corrente sanguínea e por isso precisam tomar anticoagulantes. Aqueles que já sofreram um enfarte são medicados com dois antiagregantes plaquetários, dentre eles a aspirina, para evitar que ocorra um novo entupimento de artérias. Quando estes dois quadros são associados, o sangue fica muito fino e há maior risco de sangramentos”, explica o cardiologista Renato Lopes, líder do estudo.
Além dos resultados envolvendo a aspirina, os pesquisadores descobriram que o uso de apixabana (um novo anticoagulante) reduziu o risco de sangramento em 31%, e de morte e hospitalizações, em 17%. Em comparação com a varfarina (anticoagulante usado há muito tempo na medicina), o novo medicamento apresentou 50% menos casos de AVC.
A conclusão do estudo orienta que os médicos adotem a terapia dupla, composta por anticoagulante e antiagregante do tipo clopidogrel sem aspirina — ao contrário da tripla que levava aspirina.
“Descobrimos que evitando a aspirina e a varfarina os riscos de sangramento reduzem e a proteção cardíaca se mantém. Mas, a retirada da aspirina do tratamento foi o que apresentou maior resultado positivo quanto aos sangramentos”, afirma Renato.
Veja abaixo alguns detalhes da pesquisa:
Abrangência
O estudo Augustus contou com a participação de 4.614 pacientes de cerca de 500 centros especializados de 33 países, inclusive o Brasil. A pesquisa foi realizada entre setembro de 2015 e abril de 2018.
Método
Os pacientes foram separados em quatro grupos. Cada um recebeu um dos dois tipo de anticoagulantes usados na pesquisa, associado à aspirina ou placebo. Os participantes não sabiam que tipo de medicamento estavam tomando.
Dados dos pacientes
A média de idade dos pacientes que participaram do estudo era de 70 anos e 29% deles eram mulheres.
Doenças associadas
A prevalência de hipertensão que envolve o uso de medicação; diabetes; insuficiência cardíaca; e derrame prévio, ataque isquêmico transitório ou tromboembolismo foi semelhante em todos os quatro grupos experimentais.
A pesquisa liderado por Renato Lopes será apresentada na palestra de abertura do 36º Congresso da Sociedade Brasileira de Cardiologia do Rio de Janeiro, que começa hoje, no Centro de Convenções Sulamérica, na Cidade Nova.
De acordo com o cardiologista Claudio Catharina, presidente do evento, o resultado desta pesquisa era aguardado pela classe médica.
“Para nós, cardiologistas, este é um marco no tratamento de pacientes que sofreram de enfarto e têm fibrilação atrial. Isto nos possibilita a pensar em outros paradigmas de terapias. A cardiologia mundial esperava por isso”, diz Claudio.
Para o especialista, a evidência científica do estudo possibilita que a nova diretriz seja aplicada com segurança.
“Com a diminuição da quantidade de medicamentos, podemos ver que, às vezes, menos é mais”, finaliza Renato.