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Colunistas O desmatamento na Amazônia

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Os dados são do sistema Deter-B, desenvolvido pelo Inpe. (Foto: Agência Brasil)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

O noticiário recente esteve ocupado com a polêmica declaração presidencial condenando o anúncio do INPE de que “o desmatamento na Amazônia em junho foi 88% maior do que no mesmo período de 2018”.

Conhecendo o elevado conceito do INPE junto à comunidade científica nacional e internacional, temerário seria duvidar dos números divulgados.

Mas cabem algumas considerações.

A cobertura do céu da Amazônia por nuvens é frequente, dificultando a tomada de imagens da floresta pelo satélite. Numa simulação hipotética, se em junho de 2018 a cobertura de nuvens estivesse densa, dificultando o registro do desmatamento havido e em junho de 2019 o tempo transcorresse pouco nublado, os dados colhidos comparariam situações diferentes, deixando de refletir o desmatamento realmente ocorrido (compararia alhos com bugalhos).

Analisando os dados de desmatamento divulgados pelo projeto PRODES do INPE (série histórica iniciada em 1988) verifica-se que os números colhidos mês a mês variam enormemente. Atendo-se aos anos mais recentes, em 2016 os números mensais variaram entre 114 km² desmatados em fevereiro e 1.025 km² desmatados em agosto; em 2017 variaram entre 58 km² em janeiro e 608 km² em junho; em 2018 oscilaram entre 66 km² em dezembro e 738 km² em outubro e em 2019 entre 138 km² em janeiro e 920 km² em junho. Diante desse quadro, alardear sobre o resultado de um único mês em que o desmatamento atingiu um pico elevado perde sentido, podendo inclusive prejudicar outros interesses nacionais.

E foi o que aconteceu. O inoportuno anúncio do INPE coincidiu com o momento em que o governo brasileiro teve a iniciativa de liderar um acordo de cooperação do Mercosul com a União Europeia, dando argumento à França, que teme a competição do agronegócio brasileiro e reage com a acusação falaciosa de que a nossa agricultura não respeita o meio ambiente.

Melhor seria se fossem divulgados os resultados de uma análise mais abrangente. Pelos números do próprio INPE, entre 2000 e 2005 a média anual de desmatamento na Amazônia foi de 22,3 mil km². No quinquênio seguinte (2006 a 2010) a média anual caiu para 10,6 mil km² e mais recentemente (2011 a 2015) encolheu para 5,6 mil km²/ano. Esses dados tornam evidente que o desmatamento na Amazônia vem sofrendo uma consistente redução. E para contextualizar o que representa o desmatamento ora feito, considerando que a Amazônia brasileira cobre 5,5 milhões de km², o corte de floresta atualmente feito a cada ano abrange menos de 0,1% da área total. Mantendo a taxa atual, em dez anos teremos suprimido menos de 1% da cobertura florestal amazônica.

Pela lei brasileira, na Amazônia cada proprietário de terra é obrigado a demarcar e registrar em cartório, como reserva legal, uma extensão equivalente a 80% da área da propriedade, afora as de preservação permanente (APP) e as margens dos cursos d’água, restando impedido de proceder aí qualquer intervenção, e muito menos desmatar. Em qual lugar desse Planeta é feito algo similar em defesa do ambiente?

Na Amazônia Legal o Código Florestal permite explorar 20% das terras em cada propriedade, desde que feito de forma sustentável, com autorização do órgão ambiental, podendo inclusive suprimir parte da vegetação nativa. Não obstante, a forma de divulgação dos dados hoje feita leva ao público a ideia de que todo o desmatamento é ilegal, visto não separar o desmatamento permitido daquele feito em área de preservação ambiental, em unidades de conservação ou em reservas indígenas, ilegal portanto.

Reitera-se que a pesquisa feita no INPE tem alta qualidade e merece toda a credibilidade. Adequar a forma de divulgação dos dados computados, por certo ajudará o País.

Eduardo Allgayer Osorio, Engº Agrônomo, Professor Titular da UFPEL, aposentado.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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