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Por Redação O Sul | 8 de agosto de 2019
O projeto da construção de um aeroporto vizinho a Machu Picchu está preocupando a população local, arqueólogos, historiadores e outros especialistas que estudam a antiga cidade Inca. De acordo com eles, o aeroporto e o fluxo de aviões podem causar danos às regiões próximas ao parque arqueológico.
Enquanto as obras já começaram em Chinchero, uma cidade inca a cerca de 3,8 mil metros acima do nível do mar que é a porta de entrada para o Vale Sagrado, os pesquisadores alertam as autoridades. “Esta é uma paisagem construída; há terraços e rotas projetadas pelos Incas. Colocar um aeroporto aqui iria destruí-la”, afirma Natalia Majluf, historiadora de arte peruana da Universidade de Cambridge, ao The Guardian.
Além disso, existe a possibilidade de que a construção acabe com a bacia hidrográfica do lago Piuray, que abastece quase metade da cidade de Cusco: “Parece irônico e de certa forma contraditório que aqui, a apenas 20 minutos do Vale Sagrado, o núcleo da cultura Inca, eles querem construir um aeroporto — exatamente em cima do que os turistas vêm aqui para ver”, disse o antropólogo Pablo Del Valle.
Pensando nisso, especialistas e membros da comunidade criaram um abaixo-assinado pedindo a paralisação dos trabalhos: “Acho que não há arqueólogo ou historiador significativo trabalhando na área de Cusco que não tenha assinado a petição”, relatou Majluf. O governo, contudo, não apresentou nenhuma hesitação sobre o assunto: “Este aeroporto será construído o mais rápido possível porque é muito necessário para a cidade de Cusco”, disse o ministro das Finanças do Peru, Carlos Oliva, em comunicado. De acordo com ele, existem estudos técnicos que apoiam a construção doe aeroporto.
Turismo
A população também acredita que um aeroporto na região aumentaria ainda mais a quantidade de turistas que visitam Machu Picchu — só em 2017 foram 1,5 milhão. No momento, os turistas chegam pelo aeroporto de Cusco, que tem apenas uma pista e se limita a abrigar aeronaves de pequeno porte em escalas da capital do Peru, Lima, e cidades próximas, como La Paz, na Bolívia.
O problema da questão, para os pesquisadores, é que mais turistas significam mais danos às estruturas Incas. Em 2018, inclusive, o governo limitou o número de pessoas que podem entrar no parque arqueológico por dia, já que a Unesco ameaçou listar Machu Picchu como um dos patrimônios da humanidade que estão ameaçados.
Para Mark Rice, autor de Criando Machu Picchu: A política do turismo no Peru do século XX as preocupações com o fluxo turístico no local são reais, pois o aeroporto criará “muito dano a uma das principais ofertas turísticas de Cusco, que é sua beleza cênica”. Rice ainda exemplifica: “É como se as pessoas que vão a Grã-Bretanha visitassem apenas Stonehenge”.