Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 23 de agosto de 2019
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, deve aguentar calado derrotas e desautorizações públicas a que vem sendo submetido pelo presidente Jair Bolsonaro. O chefe do Executivo terá que assumir o desgaste de demitir o ministro mais popular da Esplanada se quiser ver Moro fora do governo e, claro, explicar os motivos da demissão. Quem diz isso são pessoas que convivem com o ministro.
Na quinta-feira (22), mesmo depois das declarações de Bolsonaro sobre a possibilidade de trocar o diretor-geral da PF (Polícia Federal), Maurício Valeixo, Moro manteve a agenda sem qualquer alteração. Participou de duas solenidades e várias reuniões com auxiliares e com parlamentares. Reservado, o ministro não explicitou críticas ou queixas.
Interlocutores de Moro consideram que as declarações de Bolsonaro têm sido excessivas, sobretudo em relação a mudanças na PF. Para eles, o presidente estaria interessado em “desidratar” o ministro para que não faça sombra sobre ele. Bolsonaro estaria de olho em 2022 e não quer, segundo esses interlocutores, nenhum concorrente forte por perto.
Tão reservado quanto Moro, o diretor da PF também decidiu se manter em silêncio. Depois da nota da semana passada na qual desmente Bolsonaro sobre as razões da troca do superintendente no Rio, Ricardo Saadi, Valeixo e os demais diretores resolveram aguardar os movimentos do presidente sem fazer novas manifestações públicas. Na nota, Valeixo disse que Saadi deixaria o cargo por vontade própria. Bolsonaro afirmou que o delegado sairia por problemas de “gestão” e “desempenho”.
As declarações de Bolsonaro sobre Saadi foram as primeiras manifestações públicas de um presidente da República sobre um cargo de segundo escalão da Polícia Federal. Em geral, políticos, sobretudo governadores, tentam influenciar na indicação de superintendentes. Mas isso é feito, normalmente, de forma indireta. A cúpula da polícia evita indicar para as superintendências delegados sem bom trânsito com administradores locais, especialmente governadores.
Ao anunciar a saída de Saadi e mencionar um outro nome para o cargo, diferente do escolhido pelo diretor-geral, Bolsonaro interferiu na administração interna da polícia. Valeixo e os demais diretores teriam se sentido atropelados pela imposição do presidente. Da mesma forma, Bolsonaro teria se sentido afrontado pela nota em que a PF informa sobre os motivos da troca de comando no Rio e indica o nome do sucessor de Saadi.