Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 30 de setembro de 2019
A PF (Polícia Federal) identificou que o contato do principal suspeito de acessar os celulares de autoridades do País, Walter Delgatti Neto, com a ex-deputada Manuela D’Ávila (PCdoB-RS) foi além de uma mera troca de contato telefônico, como ela chegou a afirmar. O inquérito sigiloso revela que os dois conversaram por nove dias via aplicativo de mensagens – do dia 12 e 20 de maio deste ano. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Ao inquérito da Operação Spoofing foram incluídos 38 prints (reprodução de tela de celular) de conversas entre Manuela e Delgatti. A organização das mensagens foi feita pela própria defesa de Manuela e mostram que o diálogo entre os dois continuou mesmo depois que as mensagens roubadas de procuradores da Operação Lava-Jato e do então juiz e atual ministro da Justiça e Segurança, Sérgio Moro, foram repassadas ao jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil.
Manuela, que foi candidata a vice-presidente no ano passado, afirma que não conhecia a identidade do hacker. Nos diálogos, Delgatti demonstra desejo de expor o teor das conversas interceptadas para, nas palavras dele, “fazer justiça”. “Quero Justiça, não quero dinheiro. Desculpa eu entrar no seu Telegram, foi um mal necessário”, afirma, acrescentando o fato de ter, segundo ele, “oito Teras [bytes] de coisa errada”.
A conta do Telegram da ex-deputada foi invadida depois que Walter conseguiu interceptar a conta do senador Cid Gomes (PDT-CE) e, por meio dela, acessar o contato de Manuela. Delgatti afirmou à PF ter pedido à ex-parlamentar o contato de Glenn. Logo após receber o telefone, ele continuou a enviar mensagens. “Acredita que está enviando sem parar desde ontem arquivos? E não foi nem 20% ainda?”, avisa ele, no dia seguinte.
Manoela
Depois dos primeiros dias de conversas, o hacker tenta demonstrar certa intimidade com a ex-deputada. Em um desses diálogos, o hacker afirma que o nome de Manuela estava escrito com “O” na agenda telefônica de Cid Gomes. “Vou te contar uma coisa. kkkkk. Cid errou seu nome”, disse.
Manuela concordou, afirmando que é comum escreverem seu nome de forma incorreta. “Todo mundo erra. E escrevem Daniela também”, disse ela, para em seguida receber, do hacker, outra resposta: “Eu acertei. kkkk”. Com o avanço das conversas, o hacker passa a compartilhar com Manuela sua visão de mundo. Entre as mensagens, diz que se não fosse sua iniciativa de vazar as supostas conversas de Moro e dos procuradores, o Brasil iria quebrar.
“Dei sorte de chamar você. Eles iam privatizar tudo. O País ia falir. Tem todos os acordos prontos. Um golpe gigantesco ia ser concretizado”, escreve o hacker, segundo print no inquérito. Em uma das conversas, Manuela disse que Glenn era a “melhor pessoa” para ter repassado o conteúdo hackeado. Delgatti, por sua vez, disse que não havia pensado no nome do jornalista antes, mas depois reconheceu ter sido esta a “melhor saída”.
“Era tudo o que eu precisava. Mas acredito que não caiu sua ficha [dele] ainda”, avaliou. Manuela, por sua vez, discordou: “Caiu sim. Por isso pensei no jornalista mais capaz e com credibilidade mundial”.