Quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Por Redação O Sul | 6 de outubro de 2019
Diante das cobranças por resultados na economia, até mesmo de dentro do governo, o presidente Jair Bolsonaro reforçou seu apoio ao ministro Paulo Guedes. Bem-humorado, Bolsonaro disse que sua meta é concluir obras inacabadas deixadas por seus antecessores. Ele admitiu ter insônia e viver nas redes sociais e revelou ainda planos de comprar uma moto para passear disfarçado nas ruas de Brasília. As declarações foram dadas em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo.
O senhor compactua com as críticas de que a retomada da economia está demorando?
“A tendência natural do ser humano é o poder. Alguns têm obsessão. Tem grupos aqui, acolá, que se preparam já para 2022 e ficam torcendo para o quanto pior, melhor. Só que o pior tem um limite. O próprio Paulo Guedes [ministro da Economia] diz que a gente não vai ter segunda chance. Com uma dívida de R$ 4 trilhões que consome, segundo ele, um Plano Marshall por ano [o plano de ajuda econômica dos Estados Unidos a países europeus no pós-guerra]. Estamos conseguindo reconquistar a confiança do mundo nessas questões”.
O senhor vai iniciar uma extensa agenda de viagens pela Ásia, esteve nos Estados Unidos duas vezes…
“Agora [na viagem para a Assembleia da ONU] em Nova York, raro o chefe de Estado que não queria uma reunião bilateral. Não fiz por problemas de saúde, porque me preparei para poder aguentar o discurso, sem tossir ou começar a fraquejar. Nunca estivemos tão bem com os Estados Unidos. Os países que colaram nos Estados Unidos fizeram uma boa relação e conseguiram vencer obstáculos da economia. Estamos caminhando para isso”.
Quando os resultados começam a aparecer?
“A Caixa está dando boas notícias, diminuindo os juros do cheque especial, sem interferência minha. Eu poderia interferir na Caixa. Eu não posso interferir é no Banco do Brasil, porque não pode, teoricamente né? Posso interferir trocando o presidente, mas longe disso aí… A Dilma interferiu em 2012 e baixou os juros na marra. Essas instituições ganharam clientes, mas perderam lucro. Não sou economista, mas acho que os lucros deles vão aumentar. Então, o quadro está aí. Não tem plano B. A economia é 100% com o Guedes. Não discuto. É 100% com o Guedes. Dou sugestões às vezes, de vez em quando eu tenho razão, ele diz que vai tomar providência”.
Consegue captar nas redes sociais esses anseios?
“Eu tenho problema de insônia, não adianta. Vou lá pra um canto, para não atrapalhar a mulher na cama. Eu printo muitas vezes e passo aquilo para os ministros. O Paulo Guedes pega metade disso aí praticamente. E o ministro dá uma satisfação”.
O senhor falou para o ministro Guedes que existem três assuntos proibidos: fim da correção do salário mínimo, fim da estabilidade para servidores e CPMF?
“Falei com ele sobre CPMF, que esse nome está contaminado. Ninguém aguenta essas quatro letrinhas. Você tem uma parte benéfica desse imposto, mas ele foi usado de forma inadequada no passado. A preocupação é o aumento de impostos. ‘Ah, vamos aprovar uma alíquota pequenininha agora.’ Depois, esse porcentual aumenta. Não estou proibindo ninguém de falar nada. Quem demitiu o Marcos Cintra [ex-secretário da Receita Federal que defendia a volta do imposto] foi o Guedes. Não interfiro nessas questões”.
Do que o senhor mais gosta e do que menos gosta no exercício de ser presidente?
“O que mais gosto é que sinto, juntamente com meus ministros, que estou cumprindo uma missão. Estamos mudando muita coisa. A que eu menos gosto é quando alguns, que não são do meu meio, querem marcar uma audiência para discutir uma coisa que não deveria ser discutida. Não vou falar o que é, mas me chateia”.
O senhor sente falta de liberdade?
“Eu sabia que ia ficar preso. Eu estou preso em casa, sem tornozeleira eletrônica. Vou dar uma bomba para vocês: devo comprar nos próximos dias uma moto e deixar parada lá no Alvorada. O Heleno não sabia disso, ficou sabendo agora. Vamos comprar duas para dar um rolê por aí, de peruca (risos)?”.
O senhor está bem de saúde?
“Pela minha idade, e pela gravidade [da facada que tomou em 2018], eu estou muito bem. Se eu fosse uma pessoa sedentária dificilmente teria sobrevivido. Nós estamos, agora, atrás de quem foi o mandante. Chegou ao meu conhecimento uma correspondência de um preso contando por alto quem poderia ser o mandante do crime, mas não quero falar”.