Terça-feira, 29 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 23 de agosto de 2015
O cirurgião plástico gaúcho Marco Faria-Corrêa, 61 anos, é formado em Medicina pela Ufrgs (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e, no início dos anos 1990, desenvolveu uma técnica de uso de vídeos para a cirurgia plástica. A partir dessa inovação, ele viajou o mundo ministrando workshops, até se estabelecer em Singapura. E há alguns anos ele se especializou no uso de robôs nas operações, o que ampliou a diferenciação de seu trabalho e seu prestígio mundial. Em sua última visita ao Brasil, ele concedeu a entrevista a seguir. Confira.
Quem opera é o robô ou o cirurgião?
Marco Faria-Corrêa – Essa é a grande dúvida de quem me procura. Quando você fala em robô, a pessoa pensa em inteligência artificial ou que você programa um robô e não precisa fazer mais nada. Na verdade, o robô é uma máquina de costura, mas todo o movimento tem que ser comandado pelo cirurgião.
Mas não seria possível criar um software para controlar o robô e fazer a operação?
Faria-Corrêa – É até possível, já que os procedimentos se repetem e a anatomia humana é bem constante. Mas existe uma variação individual e a decisão de cada momento. Pode-se chegar a uma automação, mas ainda não estamos nesta era. Temos que enxergar o robô como máquina de cirurgia e não como inteligência artificial que vai tomar o lugar do médico.
Quais as vantagens do robô para uma cirurgia?
Faria-Corrêa – Diminui o tremor, aumenta a capacidade visual e possibilita uma área maior de movimento. É uma mudança impactante em cirurgias em cavidades profundas de difícil acesso. Cirurgiões mais velhos não têm mais riscos de tremer, você acaba com o nervosismo. E também é um procedimento mais rápido. O que eu levava quase duas horas para fazer, hoje faço em meia hora, deixando cicatrizes mínimas. Em resumo: robô não treme, não fica nervoso e é mais rápido.
Há desvantagens?
Faria-Corrêa – Há a questão do feedback tátil. As pinças já têm algum sensor, mas você basicamente ainda não sente a força que o robô está fazendo. Por outro lado, você tem uma supercapacitação visual, e o sentido da visão pode superar a limitação tátil.
Em qualquer ofício, falar de robô traz um debate ético. Na cirurgia plástica, área da medicina em que muito se discute ética, esse debate é maior?
Faria-Corrêa – A grande questão ética em torno da robótica é se ela vai eliminar mão de obra. Até pode eliminar um assistente, mas por outro lado você precisa de um técnico para dar suporte. Já o médico nunca será substituído.
E em algum momento vamos chegar ao ponto de se implantar um abdômen artificial em um paciente?
Faria-Corrêa – Um abdômen inteiro ainda não, mas órgãos já se faz. Já dá para fazer cartilagem com impressora 3D, inclusive para aplicação estética. Os caras estão conseguindo fazer as pessoas verem e ouvirem. É uma área que está avançando. Existe algum debate ético nisso? Talvez em relação a eliminar mão de obra, mas são coisas que vêm para melhorar. Não dá para resistir ao desenvolvimento da ciência.
O senhor tem algum limite moral para aceitar ou não fazer uma cirurgia plástica?
Faria-Corrêa – Como médico, não posso rejeitar um paciente. Tenho de ajudar, mesmo que não operando, mas encaminhando para um psicólogo ou sugerindo uma dieta. Lidar com a parte emocional faz parte da medicina.
E os casos como o de mulheres que querem se parecer com a Barbie? O senhor faz esse tipo de operação?
Faria-Corrêa – Isso é uma doença, e o cirurgião que faz, como fizeram com Michael Jackson, é mercenário. Você tem de ajudar o paciente, não ganhar dinheiro a qualquer custo. (AG)